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Márcio Coimbra
Coordenador da pós-graduação em relações institucionais e governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, cientista político, mestre em ação política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007)

O ano da pandemia vai chegando ao fim com claros desdobramentos no mundo político. Com este ano atípico, o Parlamento produziu pouco e o foco dos governos esteve no enfrentamento do coronavírus. As urnas falaram e mandaram um recado claro para os políticos: a polarização precisa acabar e soluções reais tornaram-se urgentes para a população. Mais trabalho e menos demagogia foi a tônica da mensagem. Para se reconstruir o Brasil precisamos mais do que discursos, mas uma política de resultados.




 
Isso significa que o momento de transição marcado pelo advento da nova política, impulsionado pela Lava-Jato, vai perdendo força à medida que o sistema vai se impondo e as peças se encaixando. Bolsonaro se acomodou no Centrão, o que garante o término de seu mandato sem impeachment, mas perda real de controle dos mecanismos de poder. Ao Centrão interessa mais um Bolsonaro fraco do que um Mourão reformista. Em outras palavras, mantém a caneta, porém sem tinta.
 
Isso significa que Bolsonaro não atingirá grandes feitos em seu governo. Sem reformas reluzentes ou mudanças profundas, seguirá jogando para a plateia, enquanto um grupo de partidos de centro comanda a agenda legislativa. Assim o Brasil caminhará até 2022, dentro de um tênue equilíbrio em que o presidente deixará de dar as cartas e passará a enfrentar as consequências da pandemia, com especial foco na economia.
O jogo do Centrão é bem calculado. Sem mostrar a cara, comandará os rumos do país, enquanto Bolsonaro colecionará dissabores em sua popularidade, que inicia declínio a partir de janeiro, com o fim do auxílio emergencial. Esse é um jogo que funciona para a classe política, uma vez que, reeleita em 2022, seguirá buscando ser base do próximo governo, seja quem for o eleito.




 
Bolsonaro somente pensa em 2022, mas está longe de alcançar seu objetivo de se reeleger. O eleitorado está desgostoso com a polarização. Enxerga muito discurso e pouca ação. Funcionou em 2018, período de entressafra política, mas 2022 será outra eleição, com atores diferentes e uma dinâmica singular. Quem apostar no modelo 2018 em 2022 ficará pelo caminho. Será uma eleição que vai além das redes sociais.
 
Assim como nos Estados Unidos, a fadiga com o material populista vai se tornando visível, assim como um deslocamento parcial para posições mais ponderadas, líderes mais experimentados e uma política de resultados. Assim como Trump, Bolsonaro tensiona as cordas do entendimento, que precisam mais de um arranjador do que um líder desafinado com a sabedoria e a razão.
 
A pandemia separou os adultos das crianças na política e a população acordou para a realidade de que é impossível governar longe daqueles que conhecem os caminhos do entendimento. A aventura com Bolsonaro será maior do que aquela vivida por Jânio ou Collor, outros dois líderes que surgiram na entressafra política, mas o destino será o mesmo: um mandato polêmico, controverso e polarizado. Um mandato a ser esquecido.
 
A estabilidade política nasce com o final da pandemia. A vacina será obrigatória, mas a polarização opcional. Depois de um período de tantos enfrentamentos, o caminho do centro tende a ser o escolhido em 2022. Ao recobrar a serenidade depois da tempestade, será o tempo real de reconstrução de novo Brasil.




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