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Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras
Jornalista

2020, este que está por poucos dias para sair de cena, foi o ano dos trapalhões e das trapalhadas. As provocadas pelos chineses, criadores, produtores e exportadores do novo coronavírus, as causadas pelas disputas estúpidas e rivalidades idiotas entre políticos sempre retardados, e por jornalistas e donos de empresas de mídia, revoltados por terem perdido verbas do "cala boca" e as mamatas de sempre.





O mais sério, o mais grave, é que os trapalhões, e não ressalvo ninguém da área, atuaram intensa e negativamente no episódio que está na ordem do dia e nas manchetes de todos os jornais e no noticiário cansativo e repetido das emissoras de TV. O da vacinação para imunizar as pessoas e sustar a evolução da pandemia, palavra de origem grega usada por Platão para definir um fato, um problema que afeta muitos países, o mundo todo, ao contrário de epidemia, apenas uma região.

É com perplexidade que acompanhamos, todos nós, mesmo os leigos no assunto, essencialmente da área médica, a confusão que foi armada, mantida e ampliada, e que até hoje, sexta-feira, 18 de dezembro de 2020, o ano das crises, não terminou. Cada um, do presidente da República até o mais modesto enfermeiro, fala um idioma diferente ao tratar do tema. Todos falam, muitos gritam, alguns berram, como sempre acontece quando ninguém tem razão.

O que estamos presenciamos no quesito vacina contra o vírus, que os nossos amigos do governo comunista chinês supostamente deixaram espalhar pelo mundo todo, é uma vergonha verde-amarela. Enquanto nos EUA, na Inglaterra, na Rússia, cada um com a sua, a vacina contra o coronavirus já começou a ser aplicada com excelentes resultados, nós perdemos tempo e centenas de milhares de vidas discutindo nugas, nonadas.





Que linguagem antiga! Traduzo: ninharias.

O governador de SP, certamente por demagogia e/ou para provocar o presidente Bolsonaro, de quem se dizia aliado e seguidor quando da campanha que o elegeu governador, e irritar o ministro da Saúde, diz ter comprado milhões de doses da vacina chinesa, ainda não liberada nem na própria China. É uma das trapalhadas, provocando discussões bobas.

O próprio presidente causa confusão e cria polêmica quando aborda o assunto vacinação. Bolsonaro, uma pena, tem muitas qualidades morais e comportamentais. É honesto, correto, não permite comportamento sequer duvidoso dos integrantes de sua equipe, acabou com as maracutaias e com a corrupção da era FHC e petista. Mas fala demais, fala o que deve e não deve. Briga com repórteres, que, cumprindo ordens dos seus diretores, lhe fazem perguntas inconvenientes e agressivas. Ele mesmo diz: "Não levo desaforo para casa".

Falastrão, boquirroto, todos os dias aparece nas telas das TVs. Na semana passada, por exemplo, primeiro disse que a pandemia "está no seu finalzinho", exatamente quando a COVID-19 explodia seus índices. Repercussão péssima, apesar de ter esclarecido depois: finalzinho porque a vacinação vai começar, e para não aumentar o pânico que a doença provoca.





Dois dias depois, em um discurso, afirmou que "eu não tomarei a vacina", provocando mais insegurança entre os que pretendiam vacinar-se. A decisão de não tomar era dele, pessoal, íntima. Deveria ser guardada a sete ou 10 chaves; afinal, trata-se do chefe da Nação, para não influenciar ou atemorizar os que precisam e devem ser imunizados.

Repito: uma pena o boquirrotismo impulsivo e desastroso de um político com tantas qualidades. Um defeito lamentável e, em alguns casos, imperdoável.

A verdade sofrida é que o governo federal, que deveria liderar o combate ao novo coronavírus, não cumpriu sua missão. Adiou demais. Enquanto na Inglaterra 140 mil pessoas foram vacinadas em seis dias, aqui no Brasil nem uma.

Finalmente, uma palavra sobre a Anvisa. Seu presidente, Antônio Barra Torres, declarou que a entidade não foi procurada para analisar e liberar nenhuma das vacinas que estão sendo anunciadas. E que, se for feita a solicitação, fará o que deve ser feito no sentido de liberar o produto, se for aprovado pelos seus técnicos especialistas.





Mas, diante da gravidade da situação, não seria mais indicado a Anvisa sair, ela própria, em busca de produtos e vacinas para combater o vírus?

E para espanto e revolta geral dos que assistiam à entrevista que o sério e austero novo presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, dava à Globo News no Em Pauta, a forma agressiva com que foi tratado pelo âncora Marcelo Cosme. Ao responder à primeira pergunta de Monika Waldwogel, que criticava servidora da Anvisa, e o suposto juramento de um grupo de servidores ao presidente Bolsonaro, Barra Torres corrigiu Mônica com elegância. Disse que a assessoria da entrevistadora estava equivocada, tanto no caso da servidora, que não era a mencionada, quanto ao "juramento", que não aconteceu. Mônica reconheceu os erros (que não foram dela, pois as perguntas são preparadas pelos assessores da emissora), e pediu desculpas. O âncora Marcelo Cosme, porém, se exaltou e interrompeu o entrevistado de forma agressiva. Uma briga só não ocorreu em virtude da boa educação e controle emocional do dirigente da Anvisa.

Seria este o chamado "novo jornalismo"? 

audima