(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas

Uma dívida impagável

O custo da máquina pública, todos nós sabemos, está insustentável


03/11/2020 04:00 - atualizado 02/11/2020 22:07




Gilson E. Fonseca
Sócio e diretor da Soluções em 
Engenharia Geotécnica Ltda. (Soegeo)
 
 
 
No passado, a mídia se ocupava, com preocupação, em chamar a atenção sobre a impagável dívida externa do Brasil. Hoje, ninguém ouve falar dela, certamente porque existem problemas maiores. Silenciosamente, com crescimento vertiginoso, nosso "monstro” atual é a dívida interna, que já chegou aos 90% do PIB (Produto Interno Bruto) – cerca de R$ 7,3 trilhões. No início da década dos anos 2000, ela estava em 40% do PIB e já ocupava as manchetes econômicas. O financiamento das contas públicas, progressivamente nos últimos anos com taxas de juros domésticas elevadíssimas, lastreado em títulos do governo, gerou essa conta astronômica. Agora com a taxa Selic histórica de apenas 2% é uma esperança. Mas, como os credores somos nós mesmos, fica a falsa sensação de que tudo está sob controle. Acontece que o gasto com a pandemia da COVID-19 extrapolou qualquer projeção de controle. É bom lembrar que o governo federal é fiador de estados e municípios na maioria dos financiamentos bancários e teve que gastar o que não podia, pois o déficit das contas públicas deve chegar a R$ 1 trilhão neste final do ano. Não se pode negar que o governo federal acertou, nessa opção, evitando a paralisia da economia e, também, eliminou o risco de uma convulsão social pelo desemprego generalizado, o que seria muito pior.
 
 
 
Entretanto, o temor é plenamente justificável, por apenas uma simples conta aritmética: 90% do PIB equivalem a R$ 6,3 trilhões. A força de trabalho, atualmente, está nas mãos de 70 milhões de trabalhadores. Portanto, só com a dívida publica cada um “deve” R$ 90.000. Se considerarmos toda a população brasileira, incluindo improdutivos e crianças (210 milhões) caberia a cada um R$ 30.000 para quitar toda a dívida. Alguns economistas não se assustam tanto, alegando que a dívida interna do Japão é de 286% do PIB e a dos Estados Unidos chegou a 118% neste ano. Essa analogia é muito frágil, visto que esses dois países, além de possuírem ativos vigorosos, têm toda infraestrutura pronta. Já as deficiências brasileiras estão em todas as áreas; a diferença é que umas aparecem mais do que as outras. Vejamos, por exemplo, o custo indireto das rodovias brasileiras. São várias despesas que interferem, negativamente, na economia do país, e todas poderiam ser evitadas se houvesse investimento adequado. O primeiro custo, enorme, é o da chamada “conservação das estradas”, que na verdade é um apelido arranjado para manutenção e nada mais é que um “faz-refaz” sem fim, já que a recuperação hoje é quase só tapa-buraco.

Políticas assistenciais das necessidades básicas não encontram verbas para saúde, saneamento básico e outras demandas. Mas como investir se não há superávit primário? Não há como o país deixar de se endividar e desfazer-se de estatais, sobretudo, as deficitárias. Entretanto, tudo poderia ser diferente se as empacadas reformas fiscais, tributárias, administrativas e previdenciárias que dormitam nas gavetas dos burocratas andassem. O custo da máquina pública, todos nós sabemos, está insustentável. Se “Deus é brasileiro”, está na hora de rezar.



receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)