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Ciência sem pressão

Atualmente, a ciência vem enfrentando um inimigo soturno via redes sociais


06/10/2020 04:00

Otacílio Lage
Jornalista


Omundo assiste a uma corrida desenfreada de vários países, com vieses até mesmo políticos e ideológicos, para a produção de uma vacina para imunizar a população mundial contra o novo coronavírus, causador da COVID-19. A pandemia anunciada em 11 de março pela Organização Mundial da Saúde (OMS) já consumiu milhões de vidas mundo afora; no Brasil e em Minas, o quadro segue sombrio. O aumento do número de casos e de mortes é galopante, e as estatísticas caducam a cada 24 horas. China, Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, Japão, entre outros, avançam na busca desse antídoto. Contudo, há correntes de cientistas que entendem ser prudente avançar mais nas pesquisas para que a vacina tenha eficiência de 100% e seja garantidora da saúde humana.

Voltemos no tempo 92 anos. O médico e bacteriologista escocês Alexander Fleming (1881-1955), em 1928, pesquisava substâncias capazes de combater bactérias em feridas. Ao sair de férias, esqueceu seu material de estudo sobre uma mesa no laboratório do hospital em que trabalhava, em Londres. Nunca poderia imaginar que estaria prestes a descobrir um dos mais importantes antibióticos que o mundo já conseguiu produzir, a penicilina. Ao retornar do descanso, observou que suas culturas de Staphylococcus aureus estavam contaminadas por mofo e que, nos locais onde havia o fungo existiam halos transparentes em torno deles, indicando que esse poderia conter alguma substância bactericida.

Um ano depois, Fleming publicou os resultados desses estudos no British Journal of Experimental Pathology, mas não obteve reconhecimento nem recursos financeiros para aperfeiçoar o produto nos anos seguintes. Contudo, em 1940, os pesquisadores norte-americanos Howard Walter Florey, Ernest Boris Chain e Norman Heatley transformaram a penicilina em medicamento antibiótico, com a permissão de Fleming, na fórmula em pó. A equipe de Florey foi responsável por criar uma maneira de extração e de purificação, como também pelos ensaios clínicos. A produção industrial começou nos Estados Unidos (EUA), no início da Segunda Guerra Mundial. Cinco anos depois, após o fim do conflito, Fleming, Florey e Chain receberam o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina. Claro, aqueles tempos eram outros, tudo caminhava mais lento, e o advento da guerra colocou o mundo de então em colapso. Mesmo assim, a penicilina descoberta por acaso por Fleming salvou a vida de muitos combatentes, que se livraram de infecções como difteria, tuberculose, pneumonia, sífilis e a mutiladora e quase sempre letal gangrena.

Hoje, temos a velocidade da informação, das comunicações e da competição motivada pela globalização. A luta por vacinas para enfrentar diferentes males registra histórias que engoliram muitos calendários. Uma marcante foi a antipólio injetável, anunciada em 1955 pelo médico norte-americano Jonas Edward Salk (1914-1995). Sete anos depois, a versão oral da vacina foi lançada pelo médico polonês Albert Bruce Sabin (1906-1993). A erradicação da poliomielite, contudo, passou a depender de políticas públicas perenes desencadeadas pelo Estado, por meio de campanhas periódicas de imunização de crianças mundo afora, inclusive no Brasil. A primeira grande ação neste sentido no país ocorreu em 1980, em 14 de junho e 16 de agosto, ou seja, 17 anos depois do anúncio de Sabin, em 1963.

Atualmente, a ciência vem enfrentando um inimigo soturno via redes sociais. Até mesmo vacinas consolidadas e já antigas, como a contra o sarampo, vêm sofrendo ataques de cérebros obscuros, que espalham informações falsas sobre o imunizante contra essa perigosa doença. Prova cabal disso: em 2016, o Brasil ganhou da OMS o certificado de que havia erradicado a doença. No ano passado, contudo, com o relaxamento da campanha de imunização pelos governos federal e estaduais e a parcimônia com as desinformações nas redes sociais desestimulando pais a não vacinarem seus filhos, o país registrou 9 mil casos da doença, com 16 mortes apenas em São Paulo – Minas reconheceu 130 casos, sem óbitos.

Contra a COVID-19, a busca por uma vacina segura contra o coronavírus é um primeiro passo. As etapas seguintes certamente terão que contar com uma operação muito bem planejada para fazer chegar o imunizante – não importa se russo, estadunidense, chinês, alemão, indiano, francês, inglês, seja qual nacionalidade for – a todos os quadrantes da Terra e do Brasil. Sua homologação, claro, não vai demorar 12 anos, como ocorreu com a penicilina. Tomara que a prudência seja soberana no processo de obtenção de um produto seguro e eficaz e que notícias falsas na internet sejam severamente combatidas, para que não atrapalhem o processo. Afinal, o que está em jogo é a vida, mesmo a gente sabendo, como escreveu Raquel de Queiroz (1910-2003), no prólogo do livro Dôra, Doralina: “A vida toda é um doer. Aquilo que te mata hoje amanhã estará esquecido”.


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