Rodrigo Silva
Biólogo, doutor em biofísica ambiental (UFRJ) e coordenador do curso superior de tecnologia em gestão ambiental do Centro
Universitário Internacional Uninter
Os dados oficiais do desmatamento no Brasil são alarmantes, e não alarmistas como muitos costumam dizer.
Há muito que ouvimos as notícias de taxas recordes desse tipo de desastre ambiental em nosso país. Mas, para dar continuidade à nossa leitura, precisamos esclarecer três informações importantes: a primeira se refere a quais biomas serão tratados neste artigo. São eles: Amazônia, cerrado e mata atlântica. Isso, obviamente, não diminui a importância dos demais biomas não citados. A segunda questão se refere aos dados que aqui serão mencionados – são aqueles disponibilizados pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). Por fim, a terceira questão se refere à porção da Amazônia que será tratada, a Amazônia brasileira. Assim, não falaremos sobre a Amazônia Legal, que compreende outros países e parte do Pantanal e cerrado brasileiro.
É preciso destacar outro fator bem importante quando se debate sobre o desmatamento nesses três biomas: cada um deles tem suas peculiaridades em relação aos motivos pelos quais isso acontece.
No caso do cerrado, bioma que compreende boa parte da Região Centro-Oeste do país e que tem como fundamental importância conter a água de grandes bacias hidrográficas, é principalmente impactado pelo agronegócio das grandes commodities, como, por exemplo, soja, milho, algodão e, em alguma parte, a pecuária.
Já a mata atlântica, que compreende praticamente todo o litoral brasileiro e que, entre os biomas, é o mais impactado, pois sua degradação ocorre desde a chegada dos portugueses ao território brasileiro, temos, principalmente, a expansão urbana e, em alguns casos, plantações e pecuária.
Na Amazônia, que compreende, basicamente, a Região Norte do país, tem-se, principalmente, o avanço imperativo do agronegócio e da pecuária.
Cada um desses biomas tem seu papel fundamental na manutenção na biodiversidade brasileira, que vale a menção, é uma das maiores do mundo, e em relação aos serviços ecossistêmicos que esses locais fornecem (recursos hídricos, renovação da qualidade do ar, do banco de sementes e uso do solo, entre outros).
Talvez seja esse o ponto de principal discussão das políticas públicas: qual a função de cada um desses biomas para a vida humana?. Logicamente, essa é uma visão totalmente utilitarista, mas, infelizmente, é algo que precisa estar inserido nas discussões e nos debates sobre a preservação dos locais citados.
Além disso, vale mencionar que boa parte das áreas preservadas desses biomas se encontram em áreas de conservação onde vivem populações tradicionais (indígenas, quilombolas e caiçaras), fato que também não pode ser desconsiderado nas construções das políticas de preservação.
Assim, a melhor maneira de evitarmos que o avanço desses desastres continue acontecendo é por meio da não aquisição dos produtos e serviços fornecidos por essas empresas. É nesse contexto que as tecnologias podem nos ajudar na busca de informações sobre a idoneidade dessas companhias em relação às atividades de degradação ambiental.
Por fim, dizemos que a degradação ambiental dos biomas brasileiros afetará, principalmente, os próprios brasileiros. Não podemos continuar com recordes de desmatamento ano a ano, pois as consequências vão desde a perda de financiamentos internacionais até a extinção de povos tradicionais que vivem nessas localidades.