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editorial

A lembrança de Hiroshima

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Setenta e cinco anos atrás, o mundo assistia, atônito, a explosão da primeira bomba atômica, na cidade de Hiroshima, no Japão, que provocou a morte instantânea de 70 mil pessoas e centenas de milhares nos anos seguintes pelos efeitos da radioatividade. Três dias depois, foi a vez de Nagasaki, que sofreu destruição e mortes nas mesmas proporções. Desde então, a civilização convive com o risco de ser eliminada da face da Terra e, mesmo assim, os governantes, seguindo a estratégia de dissuasão, não põem fim à corrida nuclear.




 
O que se vê, atualmente, é o afrouxamento dos controles e a modernização dos arsenais nucleares, numa renovada disputa entre as potências atômicas. Posturas como as do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que vem abandonando acordos e tratados feitos com os russos, nos tempos da Guerra Fria com a extinta União Soviética, em nada ajudam para a humanidade a pôr fim às armas nucleares. Há dois anos, Trump, avesso ao multilateralismo, abandonou o Tratado de Forças Intermediárias, que reduziu os arsenais de mísseis de alcance entre 500 quilômetros a 5 mil quilômetros. Neste ano, deixou o Tratado de Céus Abertos, que permite o monitoramento aéreo de manobras militares na Europa e América do Norte. Agora, questiona a renovação do Novo Start, que impõe limites sobre as ogivas nucleares existentes. O acordo expira em 2021.
 
São atitudes como essas que incentivam outros países a aumentar seus arsenais e de outros querer entrar no seleto clube das nações nucleares (Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França, Índia, Paquistão, Coreia do Norte e Israel). Iniciativas como as do presidente norte-americano são extremamente perigosas e só trazem instabilidade para o mundo, segundo avaliação de especialistas. Os EUA mandam um claro recado de que valorizam modernizar e aumentar o número de artefatos e não apostar na redução das ogivas. E isso justamente quando as potências atômicas se movimentam no mesmo sentido, o que significa mais intranquilidade para o mundo.
 
A China vem modernizando seu arsenal dentro da política de dissuasão mínima, em que busca garantir o poder de retaliação em caso de agressão a seu território. Atualmente, o gigante asiático dispõe de 320 bombas operacionais, contra 1.750 dos Estados Unidos e 1.520 da Rússia, e nacionalistas chineses querem aumentar seu estoque para os níveis estadunidense e russo. A comunidade internacional também se ressente quanto aos programas nucleares de países como o Irã e, mais recentemente, Arábia Saudita. As duas nações têm rivalidade histórica de fundo estratégico e religioso e o desenvolvimento de bombas atômicas pelos persas e sauditas só coloca mais combustível no volátil Oriente Médio, onde Israel tem à disposição 80 armas nucleares.
 
A realidade é que a perspectiva de desarmamento é muito pequena na atualidade, quando o mundo reverencia os mortos em Hiroshima e Nagasaki. Hoje, é muito difícil convencer as nações com poder nuclear de abrirem mão de suas bombas. Espera-se, no entanto, que as gerações futuras tomem a iniciativa de banir do planeta o horror representado pelo poder nuclear que se espalha pelo mundo.