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O capitão e os negócios

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Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

Brasil é um grande exportador de minério de ferro, petróleo e celulose, todos com grande participação chinesa nas vendas. 





"Se o mundo demanda mais produtos agropecuários, só o Brasil pode aumentar a produção, especialmente de soja e carne". Os EUA não!

Vinicius Neder assinala que o Brasil assinou com os Estados Unidos uma declaração à Organização Mundial do Comércio (OMC) com críticas à atuação da China no comércio internacional, mais uma demonstração de alinhamento do governo Bolsonaro com o governo Trump, sinalizando que o país poderá tomar partido na disputa comercial que se arrasta desde o ano passado entre as duas maiores economias do mundo.

É tudo o que o governo brasileiro não deveria fazer, dizem analistas.

"O Brasil não ganha nada com isso. Nossa tradição é mais multilateral", afirmou Lia Valls, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Lembra que a relação sino-brasileira divide o governo, com o tom belicoso do Itamaraty muitas vezes compensado pelo pragmatismo do Ministério da Agricultura. Afinal, o nosso chanceler é um bobalhão mal visto pelos colegas.

A despeito do tom belicoso nas declarações do governo Bolsonaro em relação à China, as exportações brasileiras estão cada vez mais dependentes do apetite do comprador chinês. De 2001 até o ano passado, a participação chinesa nas vendas do Brasil saltou de 1,9% para 28,5%. Com a crise global desencadeada pelo novo coronavírus, essa fatia subiu para 33,8% no primeiro semestre deste ano - um terço dos US$ 101,7 bilhões exportados pelo país de janeiro a junho teve como destino a China.





Os dados são do Ministério da Economia, compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da FGV. Para comparação, no mesmo período, as vendas para os Estados Unidos caíram de 22,6% do total para 9,9%.

Para o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, um dos problemas do alinhamento automático com os EUA é que, no comércio internacional de commodities, brasileiros e americanos também são concorrentes. E as duas maiores potências agrícolas do planeta têm a China como principal mercado. Somente um desmiolado que nada comerciou (um boteco, que seja) pode ser tão ingênuo.

Antes da declaração conjunta com os EUA, integrantes do governo já haviam feito vários ataques à China, o que levou representantes do nosso agronegócio a pedir uma mudança de postura, dado o receio de eventual retaliação por parte das autoridades chinesas (uma civilização de 6 mil anos).





As rodadas de acordos para interromper a disputa comercial entre China e EUA incluíam cotas das vendas de soja americana para os chineses. Ou seja, o agronegócio brasileiro pode sair perdendo, no curto prazo, caso a disputa comercial cesse. Para o governo americano, estar comprando mais que vendendo à China será uma mão na roda expulsar o Brasil nas exportações de soja, algodão e milho para ela. Quanto à China, em princípio, tanto faz. Vale o ditado: o amigo do meu inimigo é meu inimigo também. Se eles brigam, para mim só interessa qualidade e preço.

Para Castro, o Brasil deve se aproximar dos americanos, mas sem alianças formais. "Os americanos são práticos e preservam seus interesses diretos. Para eles, é 'amigos, amigos; negócios à parte'", disse ele.

Como é inteligente nosso capitão. Devia ser candidato a bobo da corte. É presidente de um país que detêm 3,8% apenas do comercio internacional global. Contudo, é uma potência agropecuária (cacau, café, milho, algodão, soja e proteínas animais - tem mais boi do que gente). Mas se alia justamente com o nosso maior competidor.





Saudade danada do Delfim Netto, do Médici, de Juscelino! Ora, justamente o setor mais produtivo do nosso país, o agronegócio, a agroindústria, é que pode sofrer com as vazias e vaidosas palavras do poderoso Trump e do "intrometido a poderoso" presidente do Brasil.

Enquanto isso, o ministro da economia, Paulo Guedes, na reforma tributária divulgada na terça-feira, aumenta a taxação para bancos e o setor de serviços achatando ainda mais a classe média. No projeto enviado ao Congresso, o setor de serviços pagaria 12% na tal contribuição sobre bens e serviços e o setor financeiro 5,8%. Precisa explicar? Guedes é banqueiro.

Para a nossa sorte, já que a esquerda é uma nulidade, o centrão não aceita a proposta do ministro. Aliás, se não fosse termos Maia e Alcolumbre na Câmara dos Deputados e no Senado, estaríamos num mato sem cachorro, como diz o vulgo.