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A corrida científica da COVID-19


postado em 16/07/2020 04:00

Renato de Mendonça
Físico (Ufop), especialista em história da ciência (UFMG), doutor em ciência dos materiais (Ufop) com pós-doutoramento em engenharia nuclear (SCK - Bélgica)

As implicações da epidemia do novo coronavírus provocaram mudanças impensáveis há pouco tempo. É uso de máscaras, distanciamento social, incertezas no mercado de trabalho e muito mais. Os desafios que surgiram transcenderam a medicina e ocupam todas as áreas do conhecimento. Atualmente, ocorre uma explosão de estudos e pesquisas em resposta às questões proporcionadas pela COVID-19. Uma verdadeira corrida científica pela vida.

Segundo a Web of Science, uma plataforma com a produção científica mundial, os Estados Unidos e a China lideram essa disputa. Juntos, os dois países possuem quase a metade da produção mundial de conhecimento sobre o coronavírus. As pesquisas iniciais sintetizam os esforços no desenvolvimento de exames, na testagem de medicamentos e na procura por uma vacina. Mas também indicam as consequências da epidemia, e a sua multidisplinaridade. O isolamento e retração econômica alteraram as emissões de poluição e provocaram estudos em ciências ambientais. A forma como a COVID-19 ataca os pobres e ricos de modo distinto motivou pesquisas em sociologia e os efeitos do isolamento na saúde mental dos indivíduos obrigaram investigações em psicologia. São múltiplos os desdobramentos da epidemia e a natureza dos estudos disponibilizados, rapidamente, já comprovam isso.

A propósito, a internet possui papel relevante na forma como a informação é trocada na corrida científica da COVID-19. As revistas científicas eletrônicas têm procurado acelerar as publicações relacionadas ao novo coronavírus e, de forma inédita, muitas disponibilizam artigos do tema de forma gratuita. Algo impensável há pouco tempo. Também a maneira de realizar debates e comunicações orais está sofrendo transformações. O webinar já é moda. As conferências que eram realizadas antes em cidades espalhadas pelo mundo estão migrando para a forma virtual. Não sabemos se isso permanecerá no pós-pandemia, mas o alcance dos congressos científicos pode ser ampliado com esse novo formato. Provavelmente, é uma mudança que deve ser considerada.

Aliás, de todas as mudanças que acontecem, aquelas relacionadas à corrida para a produção de uma vacina é a mais extraordinária. Conforme a Organização Mundial da Saúde, atualmente, existem 160 projetos de vacinas no mundo. Desses, 21 estão em fase de testes em humanos e o projeto considerado mais avançado (Universidade de Oxford) tem a previsão de fornecer o imunizante até o final deste ano. Seria uma vacina produzida em tempo recorde.

Entretanto, nessa corrida científica, como em outras, existem tropeços. A urgência das publicações e informações sobre o novo coronavírus produz uma explosão de artigos científicos. Esse boom mostra o esforço de pesquisadores de todo o mundo para contribuir na luta contra a COVID-19, porém, possui complicações. A produção de trabalhos científicos a toque de caixa tem evidenciado a ciência ruim, de baixa qualidade. Artigos que precisariam de revisões apuradas ou que não seriam publicados estão sendo disponibilizados. Um exemplo é o caso de um artigo sobre cloroquina com dados de 96 mil pacientes publicado em maio na revista The Lancet. Ele foi removido alguns dias após a apresentação por conta da incerteza na veracidade dos dados. Certamente, a urgência do momento fez com que os autores fossem imprudentes na publicação do artigo e responsáveis por constrangimentos de toda ordem.

Mas, na verdade, falhas na ciência são esperadas, vale lembrar que ela é uma atividade humana e, como tal, é sujeita a erros. Lamentavelmente, as necessidades de soluções rápidas de uma corrida científica colocam uma lupa sobre a ciência e o desconhecimento dos seus processos cria enganos. Nunca foi tão importante entender a metodologia científica. Ela é baseada em procedimentos sistemáticos, reprodutíveis e verificáveis. Isso precisa ser respeitado mesmo durante tempos de urgência, afinal, a metodologia é um processo elaborado que vem sendo construído em séculos de acertos e erros. Não à toa as vacinas são largamente testadas antes de serem disponibilizadas. Os efeitos precisam ser avaliados em detalhes. Esse é o processo que fornece confiabilidade e segurança à ciência. Convenhamos, em tempos de incertezas, confiança vale ouro.


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