Gustavo Loiola
Mestre em governança e sustentabilidade e supervisor de sustentabilidade e relações internacionais no Isae Escola de Negócios, responsável por ações alinhadas com a Organização das Nações Unidas (ONU)
Antes de debater sobre cooperativismo e sustentabilidade, é importante entender a força desse modelo de negócio. Com presença em 150 países e mais de 1 bilhão de cooperados, as mais de 3 milhões de cooperativas do mundo são uma engrenagem importante para o desenvolvimento da sociedade. No início do mês, foi comemorado o Dia do Cooperativismo, e o tema deste ano, as co- operativas e a ação contra as mudanças climáticas, mostra o protagonismo e alinhamento do setor frente aos problemas globais.
Segundo o Sistema da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o cooperativismo é uma filosofia de vida que tem como objetivo transformar o mundo em um lugar mais justo, feliz e equilibrado, com melhores oportunidades para todos. E esse conceito soa familiar se o relacionamos ao desenvolvimento sustentável, mesmo que o cooperativismo tenha surgido muito antes de começarmos a discutir sobre sustentabilidade. Desde o início, em 1852, com a Cooperativa de Rochdale, o seu principal objetivo estava em um contexto de justiça social, viabilizando um modelo de negócio mais inclusivo e igualitário. Hoje, a identidade do modelo se apresenta em três pilares:
Cooperação: protagonismo e empreendedorismo são grandes aliados do cooperativismo, que substitui a relação tradicional de emprego-salário por trabalho-renda. O conjunto de regras que regem a organização é construído pelas pessoas. Todos constroem e todos prosperam juntos;
Transformação: o cooperativismo tem uma atenção especial à comunidade em que está inserido e se preocupa, especialmente, no impacto positivo que pode gerar no planeta, estimulando o desenvolvimento social e econômico;
Equilíbrio: para cooperar, é necessário um equilíbrio de opiniões e conceitos, especialmente do coletivo frente ao individual.
Pilares como esses representam muito e nos mostram um caminho interessante para os modelos tradicionais de empresas. Equilíbrio, transformação e cooperação são conceitos importantes para as organizações, que precisam se reinventar frente aos desafios atuais. Os sinais apresentados pelo planeta e a dinâmica da sociedade exigem que empresas estejam cada vez mais integradas com as necessidades das suas partes interessadas e contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Em 2011, Michael Porter e Mark Kramer publicaram, na Harvard Business Review, artigo que falava sobre o valor compartilhado. O conceito apresenta que a geração de valor econômico deve também gerar valor para a sociedade, articulando o seu desenvolvimento. Em resumo, o progresso da empresa deve estar conectado ao progresso de todos. São três as premissas para a criação de uma estratégia de valor compartilhado, sendo a reconcepção de produtos e mercados, redefinição da produtividade na cadeia de valor e o desenvolvimento dos clusters locais. Tais princípios, assim como acontece nas cooperativas, exigem uma maior compreensão das necessidades do seu entorno, atrelando o sucesso da organização ao sucesso da comunidade.
Já sabemos que o capitalismo precisará de um grande recomeço. Basta olhar a situação em que o nosso planeta está nas dimensões econômicas, sociais e ambientais. O cooperativismo e o valor compartilhado são formas de redefinir as fronteiras do nosso modelo econômico atual, estimulando uma nova onda de inovação com impacto. Os modelos tradicionais têm muito o que aprender com as cooperativas, especialmente em como prosperar sem deixar ninguém para trás.