Ângela Mathylde
Psicopedagoga e psicanalista
Não é novidade que a pandemia provocou profundos impactos na saúde mental da população. As mudanças foram muito repentinas no cotidiano, além da preocupação constante com a possibilidade de contrair a COVID-19. Entretanto, observa-se uma discrepância nesses impactos entre homens e mulheres: elas são, consideravelmente, mais afetadas pela ansiedade, estresse e demais queixas psicológicas. A Organização das Nações Unidas (ONU) apontou que as mulheres correm mais risco de apresentar sofrimento psicológico.
O aumento dos problemas na saúde mental está relacionado a questões consideradas grandes ocorrências no cotidiano delas e já é motivo de discussões, muito antes da pandemia. Cotidianamente, elas precisam lidar com as tarefas domésticas, os afazeres do trabalho e cuidados com os filhos. O levantamento Retrato das Desigualdades de Gênero e Raça, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que enquanto homens dedicam, aproximadamente, 10,5 horas semanais às tarefas domésticas, as mulheres destinam 23,3 horas. A expectativa é que elas sejam capazes de lidar com todas essas responsabilidades, fazendo com que se sintam pressionadas e criando uma carga emocional e psicólogica. A conciliação de tudo isso é um desafio quase impossível com a pandemia e a mudança brusca da realidade decorrente do isolamento social.
A adoção do ensino a distância também exige adaptação com os filhos em casa. A mãe acaba dedicando algumas horas na ajuda com as aulas e deveres. Há, ainda, os casos em que os filhos estão com as aulas totalmente paralisadas e mantê-los dentro de casa, encontrando formas de entreter e distrair, também ocupa grande parte do dia. Há também as mulheres que não são mães e continuam trabalhando fora de casa e se preocupam, constantemente, com a possibilidade de contrair a doença e infectar parentes. Elas lidam com a rotina do trabalho e os cuidados em casa.
É preciso entender que a sobrecarga mental feminina não é um problema novo. A pressão em todos os âmbitos da vida delas, desde relacionamentos até a vida profissional, sempre impactou a saúde mental, o comportamento e o cotidiano. É essencial dar voz a elas, ouvir suas queixas e ajudá-las a lidar com o estresse. A pandemia provoca diversas preocupações que, somadas às tarefas diárias, resultam em um sério problema psicológico, levando, até mesmo, à depressão.
É normal se sentir estressada, desanimada ou triste com a situação atual; afinal, o momento é muito incerto. É importante elas deixarem as tarefas um pouco de lado e dedicar um tempo para absorver tudo que está acontecendo, lidando com as próprias emoções. Não adianta tentar dar conta de tudo e acabar ainda mais exausta. A recomendação é relembrar sempre que, em uma casa, as responsabilidades são de todos, ou seja, maridos, filhos e parentes também devem fazer sua parte para garantir a harmonia, evitando deixar todas as atividades para a mulher.