Jornal Estado de Minas

O valor da vida humana em tempos de pandemia

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Gilberto Aurélio Bordini
Doutor em teologia e professor de teologia  católica no Centro Universitário Internacional Uninter

Todos ficamos estarrecidos com declarações em relação à pandemia, às mortes e ao descaso pela vida. Alguns comentários e opiniões demonstram insensibilidade com a humanidade, tratada como se não tivesse valor. O "e daí" e o "tudo bem que a natureza criou..." nos levam a consequências mais profundas como o individualismo arraigado nas culturas atuais e o secularismo, fruto de um relativismo religioso em que se acredita no que convém, ou mesmo, em preocupações efêmeras, colocando como prioridades a economia e a política, que se sobrepõem aos valores essenciais da vida humana.



Luc Ferry, em seu livro Revolução do amor, ao analisar as características do tempo presente, nos alerta que os únicos seres pelos quais agora estaríamos dispostos a arriscar nossa existência são os seres humanos, não os ideais políticos e econômicos, junto com os processos de globalização. Declarações como essas não levam em conta o que está por trás da vida humana, a sua existência, história e sonhos, sepultados juntos com o "e daí", ou "tudo bem", sem o devido valor de suas identidades e seus rostos sofridos lutando com um inimigo desconhecido.

Como cristãos, não pensamos na vida somente com um valor humano, mas também divino; somos criados à imagem e semelhança de Deus e dotados de inteligência e liberdade que nos diferenciam das outras criaturas.  No evangelho de João, 10,10, Jesus se intitula "Eu sou a vida", que estava com Deus e que agora está conosco, e que oferece como plenitude de seu amor, de um modo total, definitiva e plena em sua autonomia, a verdadeira liberdade nos dada por Deus. A Igreja também, em sua história, se pronunciou muitas vezes sobre esta dignidade da vida humana nos documentos papais e da congregação para a doutrina da fé, afirmando no documento Dignitas personae que todo ser humano, desde a concepção até a morte natural, deve reconhecer a dignidade da pessoa, sua linhagem e não somente tratá-la com descaso, depreciação, já que a vida está muito acima dessas palavras vazias e sem sentido.

Mas o que nos enche de esperança são figuras como o papa Francisco, que em todos os  seus pronunciamentos não deixa de agradecer aos profissionais da saúde, médicos e enfermeiros, que correm riscos e são pouco valorizados, que lutam e valorizam esta vida muitas vezes descartada por quem tem a obrigação de fazer alguma coisa em prol das pessoas fragilizadas, vulneráveis, que lutam para sobreviver neste mundo de injustiças. Por isso, não é por palavras como 'e daí' e 'tudo bem' que deixaremos de valorizar o que nos foi dado como fruto do amor.