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A tábua, o casamento e os políticos


postado em 20/06/2020 04:00

Gilson E. Fonseca
Sócio e diretor da Soluções em Engenharia Geotécnica Ltda. (Soegeo)

Conta uma estória de autor desconhecido, provavelmente da sabedoria milenar chinesa, que um pai, preocupado com as peraltices e desvio cultural de seu filho, deu-lhe, como castigo, pregar um prego a marteladas numa tábua, toda vez que ele cometesse um desvio de conduta. Como ele era realmente muito peralta, com pouco tempo a tábua estava cheia de pregos. Um dia, envergonhado, vendo que era mais vantajoso controlar seu gênio, ele procura seu pai e lhe pergunta: "Pai, eu quero ser melhor, mas como eu vou fazer para acabar com os pregos?". Seu pai lhe responde que, a cada boa ação, ele poderia arrancar um prego. Com essa chance, começa a ter nova postura e a toda atitude nova entusiasmava-se, não vendo a hora de retirar o último prego.

Certo dia, muito eufórico, ele procura o pai e lhe diz: "Felizmente, hoje, retirei o último prego. Agora fiquei livre, a tábua está limpa!". Seu pai, com grande serenidade e sabedoria, responde-lhe: "Parabéns pela mudança, mas, observe que a tábua nunca será a mesma, pois os buracos que você fez nela jamais desaparecerão". Essa estória, embora singela no conto, é muito forte no conteúdo e serve de alerta para o cuidado que devemos ter, não só nos atos, mas também nas palavras, pois as marcas podem ser indeléveis em quem é atingido.

Na convivência humana, o relacionamento conjugal é, seguramente, o mais complexo e, paradoxalmente, tem todos os ingredientes para dar errado. Pode parecer exagero, mas, basta lembrar as diferenças em muitos casais: a começar pelo sexo, educação familiar, gostos, manias, idade, profissão, raça, além de ter que dividir espaço. Portanto, o casamento que é, supostamente, a relação mais duradoura, também está mais vulnerável aos arranhões do dia a dia. Tempo de convivência e que muitos chegam a ficar juntos por várias décadas não significa, necessariamente, que suas questões estão plenamente resolvidas. Quanta gente, por medo da mudança, dependência econômica, insegurança e fatores outros, mesmo em detrimento do afeto que sonhava receber, apenas administra sentimentos e mágoas não esquecidas, preferindo carregar o "fardo da vida".

Parece que a estória foi encomendada para o casamento, no qual muitos vão acumulando buracos e não se dão conta de que formaram uma verdadeira "tábua de pirulitos". Como as palavras ou atos não têm volta, é fundamental ter serenidade, e nunca achar que só o outro erra, pois, caso contrário, o caminho estará aberto para o rompimento. Portanto, apenas uma palavra inconsequente, além de ferir, pode ficar para sempre. Confúcio, com sua ímpar sabedoria chinesa, já proverbiava: "A pena fere mais que a espada".

Como anda a política brasileira, importante seria cada político ser obrigado a submeter-se à mesma obrigação que o pai deu ao seu filho, receber uma tábua e apresentá-la a cada final de mandato, para aferição da quantidade de furos, como condição para concorrer de novo. O problema é que as fábricas de prego teriam que trabalhar em três turnos para atingir a demanda. Como estamos vendo, é muito triste constatar que Bolsonaro, com as grosserias, provocações, impropérios e destempero diários, teria que ter uma fábrica de pregos só para ele.


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