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Movimento negacionista da pandemia

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Ângela Mathylde
Psicanalista e psicopedagoga 

A pandemia do novo coronavírus modificou, intensamente, o cotidiano de milhares de pessoas no mundo. A preocupação entre brasileiros é grande com o número de mortes ainda em ascensão. Entretanto, mesmo com os dados alarmantes do avanço da COVID-19, muitos ainda não têm levado a pandemia a sério e ignoram as medidas de prevenção, como o isolamento social, uso de máscaras e álcool em gel. Um movimento negacionista da pandemia surgiu, alegando que o cenário não é tão ruim quanto parece e que os esforços para prevenir o avanço do surto são desnecessários. A crença vai de encontro ao que cientistas, médicos e autoridades têm reforçado nos últimos meses, abrindo espaço para a dúvida: por que as pessoas negam a gravidade da situação?.



Primeiro, é preciso lembrar que se trata de uma situação nova e complicada, um dos acontecimentos mais impactantes do século. Cada pessoa lida de uma forma diferente com esses impactos, alterando tanto as dinâmicas pessoais como os relacionamentos, rotina e bem-estar, quanto aspectos coletivos, como a economia, saúde pública e política. Para muitos, é difícil aceitar todas as mudanças decorrentes da pandemia e lidar com o medo de ser infectado, fazendo com que a tentativa de diminuir o problema real seja uma opção mais fácil que enfrentar a realidade. A gravidade da situação é menosprezada e moldada de forma a ficar mais confortável dentro da realidade da pessoa, espantando a ansiedade. 

 O problema é que esse pensamento leva o indivíduo a ignorar também os cuidados necessários para evitar o contágio. A adoção de medidas de prevenção deixa de ser uma conduta individual e se torna uma necessidade para garantir o bem coletivo. Reduzir o momento atual cria a falsa sensação de segurança, prejudicando todos. Exemplo disso é o Placar da Vida, imagem compartilhada pelo Ministério da Saúde nas redes sociais, divulgando o número de pessoas em recuperação. Contudo, o post  não informa o número de mortes até o momento, sendo usado por negacionistas para diminuir a gravidade da pandemia. É essencial manter a positividade, mas as vidas perdidas não podem ser esquecidas e devem ajudar a lembrar da seriedade da pandemia. 

A situação tem sido observada nas redes sociais com o movimento negacionista da pandemia ganhando muita força. As fake news são postadas e compartilhadas com frequência, principalmente relatos falsos de pessoas que, supostamente, tiveram a doença e se recuperaram rapidamente. Outros posts  ainda citam "dicas" sobre como curar a COVID-19 com receitas caseiras, contribuindo ainda para a desinformação da população e prejudicando gravemente o estado de saúde de uma pessoa que realmente for infectada. 

  É normal relutar em aceitar essa nova realidade; afinal, mudou a vida como se conhece, bruscamente. Entretanto, a recomendação é manter a mente dentro da realidade e buscar a prevenção da melhor forma possível. O acompanhamento psicológico é recomendado no caso de extrema ansiedade ou dificuldade de lidar com os acontecimentos recentes. Agora, cuidar do bem-estar e manter o compromisso com a verdade são atos coletivos.