Flávio Roscoe
Presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg)
No rastro dos dramáticos efeitos sociais e econômicos causados pela COVID-19, com grave e inquestionável ameaça a milhões de empregos, emerge cristalina uma certeza irrefutável: passado este momento, teremos pela frente o indeclinável desafio de reconstruir o país. Precisamos, desde já, nos conscientizar e nos preparar – todos nós – para esta gigantesca missão para a qual nos convoca a sociedade brasileira. Esse, em essência, é um consenso que nasce da convicção de que, infelizmente, a crise sanitária em curso traz fortíssimos impactos recessivos sobre a economia, em escala talvez nunca vista antes. Para seguirmos adiante, precisamos de união entre todos os setores sociais e de previsibilidade, o que virá com medidas de incentivo ao emprego e à retomada do desenvolvimento.
Estudos realizados pela Fiemg, em sintonia com incontáveis diagnósticos realizados por outras instituições, no Brasil e no exterior, entre eles o FMI e o Banco Mundial, apontam cenários fortemente recessivos, com evidentes e fortes repercussões nos níveis de emprego e até mesmo nas taxas de sobrevivência das empresas, variando segundo o período pelo qual se prolongar o distanciamento social.
Os indicadores dos primeiros 45 dias de isolamento corroboram com a nossa projeção de contração de 5,7% do PIB do Brasil e de 7% em Minas Gerais. O faturamento do setor de serviços registrou queda de quase 60% entre março e abril deste ano. A produção industrial nacional de março caiu 3,8% e a estadual 4,2%, em relação ao mesmo mês de 2019.
A piora do mercado de trabalho é evidente: 1,2 milhão de pessoas perderam o emprego no Brasil, dos quais 212 mil em Minas Gerais, somente no primeiro trimestre deste ano. Um novo contingente de pessoas sem trabalho e sem perspectivas soma-se, portanto, aos 12 milhões de desempregados no país. Como agravante, aproximadamente 40% da força de trabalho nacional é informal. Assim, se as medidas de proteção ao emprego e à renda não forem eficazes, o número de desempregados pode dobrar, colocando o país na rota de um desastre social sem precedentes.
O importante é constatar que existe luz no fim do túnel sombrio que estamos atravessando – e constatar que a reconstrução do país é possível e só depende de nós que, no coletivo, somos a sociedade brasileira. Precisamos, fundamentalmente, de líderes verdadeiros que nos conduzam no pós-pandemia e que se disponham, também verdadeiramente, a colocar os interesses do país e da sociedade acima de seus próprios desígnios corporativistas e focados sempre nas próximas eleições. Precisamos de líderes que se guiem pelo diálogo e, em um grande pacto, conduzam o país nos tempos de reconstrução que devemos viver desde agora.
As empresas brasileiras têm sido exemplares nesta direção. Com atos e fatos concretos, demonstram ter atingido sua maturidade plena, entendendo e compreendendo que são partes integrantes e ativas da sociedade na qual estão incluídas, das comunidades do entorno de suas fábricas. Tem sido muito gratificante acompanhar, na Fiemg, a disposição de empresas de todos os portes – dos micro aos grandes conglomerados – em participar de ações fundamentais para o atendimento às vítimas da COVID-19. Vão da produção e doação de álcool em gel à aquisição de respiradores mecânicos e até à efetiva participação na construção de grandes hospitais de campanha.
Há exemplos notáveis e emblemáticos do desejo, da vontade e da disposição em dialogar e buscar o consenso. Há poucos dias, em ato realizado em nossa sede, a Fiemg e as três maiores centrais sindicais do Brasil – Central Única dos Trabalhadores (FEM/CUT), Central dos Trabalhadores do Brasil (Fitmetal/CTB) e Femetal/Força Sindical – chegaram a um acordo histórico e que vai preservar os empregos de 180 mil trabalhadores, de quatro mil empresas, em 150 municípios em Minas Gerais, no setor metalúrgico. Somados a acordos estabelecidos com outros segmentos, alcançamos 300 mil empregos preservados no estado.
Só depende de nós, de todos nós, de cada um de nós. Há um futuro pela frente e é nossa responsabilidade e dever construí-lo. Somos capazes, juntos, de cuidar das vítimas do coronavírus, de recolocar o país no rumo do crescimento econômico, com as tão aguardadas e fundamentais reformas, em especial a tributária e a do Estado. Esse é o caminho para fazer do crescimento efetivo instrumento de inclusão e transformação social. Sem falsos dilemas.