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editorial

OMS e a cloroquina

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Mais um ingrediente foi colocado no debate sobre a conveniência ou não do uso da hidrocloroquina no combate à pandemia do novo coronavírus, como prega, sistematicamente, o presidente Jair Bolsonaro – ele também é ardoroso defensor da utilização da cloroquina em pacientes com a COVID-19. Agora, a Organização Mundial da Saúde (OMS), criticada com frequência por Bolsonaro por indicar o isolamento social como forma mais eficaz de enfrentamento à pandemia, suspendeu estudo global envolvendo 17 países, inclusive o Brasil, sobre a eficácia do medicamento.



A decisão foi do colegiado do organismo internacional, composto por representantes de 10 países, e baseou-se em estudo divulgado pela revista britânica Lancet, uma das mais influentes publicações científicas do mundo, semana passada. A pesquisa constatou que o uso da hidrocloroquina ou cloroquina em pacientes com coronavírus aumenta o risco de morte e de cardiopatias.

A suspensão da pesquisa capitaneada pela OMS se deu dias depois de o Ministério da Saúde, pressionado pelo Palácio do Planalto, recomendar a prescrição da cloroquina – remédio usado contra a malária e doenças autoimunes – em pacientes em estágio inicial da COVID-19. Contra todas as indicações científicas, o Brasil passou a adotar, oficialmente, no protocolo de tratamento da COVID-19, a cloroquina, o que não é recomendado pela esmagadora maioria da comunidade médica.

Recomendação que já tinha provocado a queda de dois ministros da Saúde – Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, por não concordarem com a indicação da droga como salvadora da pátria. Como médicos, sabiam que não havia comprovação sobre os benefícios do medicamento e dos riscos que representa para os enfermos. Depois da indicação do Ministério da Saúde, Mandetta acredita que o número de mortes deve aumentar. Teich, por sua vez, crê que o protocolo federal da cloroquina deve ser revisto, após a publicação do estudo na revista britânica.

Em seu comunicado, a OMS revela que o ensaio clínico internacional, envolvendo 3,5 mil pacientes com COVID-19 de 17 países, está suspenso até que se tenha “uma análise abrangente e uma avaliação crítica de todas as evidências disponíveis globalmente”. Espera-se que, à luz da ciência e das pesquisas, o governo possa voltar atrás, mesmo que temporariamente, em sua iniciativa favorável à prescrição da cloroquina e aguarde uma decisão final sobre a eficácia ou não do medicamento.