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Um gigante da agricultura


postado em 26/05/2020 04:00



João Dewet Moreira de Carvalho
Engenheiro-agrônomo

O Brasil alimenta um quarto de todos os habitantes do planeta. Quem não conhece a real história de suor, desprendimento e muito idealismo existente por trás dela, até pensa que tudo é devido, como disse, há mais de 500 anos, Pero Vaz de Caminha, ao fertilíssimo solo pátrio, em que "se plantando, tudo dá". Boba ilusão do entusiasmado escrevente português.

Ilusão predominante ainda hoje em dia. Pois a maioria da população brasileira desconhece que a maior parte do nosso território é composta de solos pobres. Sendo alguns até bem problemáticos. Realmente, impróprios para a agricultura em seu estado natural. Mas que, devido ao trabalho abnegado de inúmeros agrônomos, tornou possível um país pobre e incapaz de produzir, na maior parte do século 20, o alimento necessário à subsistência do seu povo, ser transformado no maior celeiro mundial.

Como em toda guerra a vitória só vem depois de inúmeras batalhas, o mesmo aconteceu no "case agrícola brasileiro". O processo foi lento, mas, firme. No fim do século 19 e início do 20, várias escolas agrícolas de nível superior foram criadas no país. E passaram a introduzir e propagar as modernas técnicas da ciência agrícola em suas regiões de atuação. No entanto, nem todas essas tecnologias se adaptavam adequadamente devido ao clima predominante por aqui ser tropical. Bem diferente do berço originário dessas técnicas disponíveis, com seu clima temperado da velha Europa ou da América do Norte.

 Contudo, as primeiras regiões beneficiadas por todo esse processo transformador do meio rural brasileiro foram justamente as contempladas com a instalação dessas escolas. Que, posteriormente, vieram a se tornar imensas universidades com atuação em diversas outras áreas. As pioneiras são: a Escola Superior de Agricultura Luís de Queiroz (Esalq), em Piracicaba, São Paulo; a Escola Superior de Agricultura de Lavras (Esal), em Lavras, Minas Gerais; a Escola de Agronomia do Km 47, no Rio de Janeiro; a Universidade Federal de Viçosa (UFV), em Viçosa, Minas Gerais.

 No entanto, o processo não foi tão rápido quanto o desejado. Afinal, toda transformação de uma r ealidade tóxica e enraizada no cotidiano de uma nação leva tempo e demanda estratégias para que surjam resultados alvissareiros. Contudo, os primeiros passos haviam sido dados logo após a implantação das primeiras escolas agrícolas de nível superior. E ao ser constatado que não bastava apenas enviar elementos ao exterior para que eles trouxessem ao Brasil técnicas exitosas nos países de origem, mas totalmente ineficientes no ambiente agrícola nacional. Então, os visionários passaram a investir na formação de agrônomos que aprendessem a pensar e, com a capacidade apurada de raciocinar, pesando os prós e contras nos experimentos, desenvolvessem técnicas condizentes à realidade do país. E, em outros casos, no mínimo, promovessem adaptações dessas tecnologias estrangeiras de forma que lhes viabilizasse o uso com eficiência.
 
Aí, no meio desse ambiente revolucionário, surge a figura de um garoto de origem humilde. Mas vocacionado para ser um destacado agente transformador de toda uma realidade adversa vivida, até então, pela sofrida nação brasileira. Seu nome: Alfredo Scheid Lopes. Estudou nos anos de formação no famoso educandário presbiteriano Gammon, em Lavras, Minas. E, em seguida, entrou para a Escola Superior de Agricultura de Lavras. Onde passou, depois de formado, a ser, em 1962, professor e pesquisador. O espírito competitivo e o ardor guerreiro que o caracterizavam, levando-o a ser um dos mais destacados atletas mineiros das décadas de 50 e 60, quando fez parte de equipes de atletismo e da Seleção Mineira de basquete, conquistando inúmeros títulos regionais e nacionais, logo se fez sentir no agrônomo Alfredão.

Seus estudos dos solos do imenso e improdutivo cerrado brasileiro, em sua condição natural, e os procedimentos técnicos e científicos por ele adotados, entre os quais o uso do elemento mineral fósforo, visando possibilitar o desenvolvimento saudável e produtivo das culturas, reverteram o caráter inóspito do solo do cerrado. E, com isso, o inovador Alfredão revolucionou toda a agricultura nacional. Na verdade, transformou o Brasil no garantidor da existência futura da maior parte da humanidade, ao não lhe negar o mais precioso meio de subsistência existente: o alimento.

Outro gigante responsável direto pela transformação do Brasil como o maior celeiro alimentar mundial, também professor e reitor da Escola de Agricultura de Lavras nos anos 60 e 70, além de ser o insuperável ministro da Agricultura, criador da Embrapa e de tantas outras instituições fundamentais à elevação da nação brasileira no cenário internacional, o Dr. Alisson Paulinelli disse: "A importância do Alfredo é incomparável. A morte dele, no sábado, 23 de maio (2020), ficará na história como o fim da existência terrena de um homem incomum. E grande parceiro de jornada. Dele, não apenas a família ou os amigos terão saudades, mas toda a humanidade, pelos benefícios recebidos".

Pena que homens da envergadura do Dr. Alisson Paulinelli e do Dr. Alfredo Scheid Lopes, que tanto orgulho trazem ao povo brasileiro, estejam em falta na atualidade. Principalmente nas altas esferas dos três poderes da República. Tanto no Executivo, quanto no Legislativo e no Judiciário. Onde as nulidades tomaram conta e tanto têm envergonhado a nação brasileira diante do mundo, nos últimos 20 anos, e fazendo a nação chorar copiosamente. Não de saudades, como se chora hoje pelo Alfredão. Mas de raiva e de vergonha por estar sendo representada por verdadeiras excrecências nacionais.


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