(none) || (none)
UAI

Continue lendo os seus conteúdos favoritos.

Assine o Estado de Minas.

price

Estado de Minas

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Assine agora o Estado de Minas por R$ 9,90/mês. ASSINE AGORA >>

Publicidade

Estado de Minas

Dom precioso de Francisco


postado em 22/05/2020 04:00 / atualizado em 21/05/2020 21:29


Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB)

A Igreja Católica no Brasil promove uma semana pela ecologia integral, interpelando a sociedade, adoecida, com feridas expostas, a encontrar novo modo de viver. É a celebração pelos cinco anos da carta encíclica Laudato Si – sobre o cuidado com a casa comum, publicada pelo papa Francisco em 24 de maio de 2015. Essa semana busca ecoar o que pede a carta encíclica do papa sobre o cuidado com a Casa Comum, a partir da exemplaridade inigualável de São Francisco de Assis, considerado o Pai da Ecologia, respeitado pelos que são, ou não, cristãos, em razão da universalidade de seus ensinamentos. Passados mais de oito séculos, os sentimentos, escolhas e hábitos de São Francisco permanecem como sinal luminoso, oferecendo aprendizados indispensáveis. O papa Francisco, assim, revisita o "pobrezinho de Assis", contribuindo para que a civilização contemporânea redesenhe seus funcionamentos, faça novas escolhas e se afaste do caminho que pode levá-la a diferentes extermínios e a graves pandemias.

No horizonte da carta encíclica Laudato Si está a adoção inteligente e imediata dos parâmetros da ecologia integral, com suas dinâmicas que podem garantir dois bens fundamentais, procurados a todo custo: alegria e autenticidade. Uma alegria que dura e sem a qual não se consegue viver adequadamente. Sem essa alegria, a vida perde sentido, torna-se dolorosamente pesada. Já a autenticidade, outro bem necessário, refere-se à capacidade bonita de se exercer a liberdade sem jamais perder o horizonte da própria identidade. A autenticidade gera razões e iluminações condizentes com o grande dom da vida. O ponto de partida inteligente para alcançar alegria e autenticidade parece ingênuo e, por isso, é irracionalmente desconsiderado: dedicar amorosa reverência aos mais pobres da Terra e atenção particular à criação de Deus.

Esse olhar sensível dedicado à criação e aos pobres faz abrir o coração, leva à alma valores nobres, cultiva na interioridade humana bons sentimentos e modula cada gesto na dinâmica inigualável da solidariedade. Quando o ser humano, verdadeiramente, dedica atenção à criação e aos pobres consegue perceber prioridades que são indissociáveis: a busca pela paz interior, o respeito à natureza e a consciência do dever de trabalhar na edificação de uma sociedade justa e fraterna, com a defesa dos mais pobres. Essas prioridades precisam nortear a conduta social, política, econômica, religiosa, cultural e cidadã. A paz interior, que todos buscam, exige a vivência das lições de uma ecologia integral, para livrar o ser humano do domínio das idolatrias do lucro e do dinheiro, da indiferença ante os clamores dos empobrecidos. Esse domínio do lucro e da indiferença é raiz do uso desenfreado, extrativista e criminoso dos bens da casa comum, da adesão à lógica dos privilegiados que é condescendente com o colapso da vida dos vulneráveis.

Parecerá romântico às mentes teleguiadas pelos endurecimentos que alicerçam as pandemias evocar a atitude de São Francisco de Assis. Ao olhar, enamorado, o Sol, a Lua, minúsculos animais, ele cantava e, consequentemente, envolvia o seu coração com uma sabedoria solidária e uma reverência nobre dedicada a todos – entendia que todos os seres e elementos do universo são irmãos uns dos outros. Assim, ensina o caráter essencial da simplicidade, frequentemente desconsiderada no mundo contemporâneo, dominado por uma irracionalidade fundamentada na desmedida ambição por dinheiro. Em vez da opção pela simplicidade, prioriza-se o acúmulo de bens que compromete a qualidade de vida, gerando distanciamento de toda gratuidade, o que produz massacres e pandemias.

A carta encíclica do papa, inspirada nas lições de São Francisco de Assis, está para além de uma avaliação intelectual ou de um cálculo econômico. Oferece à sociedade contribuições para que se viva novo ciclo, alicerçado em sabedoria que se desdobra em compromisso: é preciso cuidar de tudo e de todos. Eis o apelo do papa Francisco, dever inadiável que deve unir a família humana em busca de um desenvolvimento sustentável. O dom precioso é reconhecer e adotar a inteligência criativa fundamentada nos parâmetros da ecologia integral, para superar a indiferença em relação a graves problemas.

A ecologia integral é o caminho mais adequado a ser seguido pela humanidade no seu desafio de repensar condições de vida e de sobrevivência em um mundo adoecido, com sintomas evidentes nos descompassos políticos e sociais, religiosos e econômicos. Hão de prevalecer os parâmetros da ecologia integral, em diferentes contextos. O ponto de partida, antes de se pensar nas cúpulas, instâncias legislativas ou conferências, é a vida cotidiana, a atitude de cada pessoa. Chegou a hora, e de agora não pode passar, considerados os esgotamentos do mundo e da civilização contemporânea, de novas lições serem aprendidas, necessárias para surgir um novo tempo, broto de esperança. Todos, humildemente, possam assumir a condição de aprendizes, na vivência do que ensina a carta encíclica Laudato Si, um dom precioso de Francisco.


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)