Jornal Estado de Minas

EDITORIAL

O inimigo real

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A instabilidade observada no país lembra a explosão de sucessivos cometas. No evento cósmico, o astro perde o núcleo, fragmenta-se em milhões de partículas e espalha uma nuvem de poeira, gelo e gases. A unidade e a clareza desaparecem do entorno.



Vive-se situação análoga no Brasil. Fatos e factoides chamam a atenção, roubam energia e desperdiçam tempo. Formam uma cortina de fumaça que compromete a visão do essencial. No caso, o combate ao coronavírus. A COVID-19 é o inimigo real.

Em meio à pandemia que ceifa vidas e afunda a economia, criam-se fatores de desestabilização que desviam o foco do alvo que deve ser perseguido pelo governo e pela sociedade. Manifestações antidemocráticas recebem apoio. Confrontos ganham manchetes. Demissões tumultuam o ambiente. Todos têm um denominador comum: deslocar a atenção do problema.

Mais de 400 óbitos se registram a cada 24 horas. Virão mais, muitos mais. A curva está ascendente e se acelera dia a dia em progressão geométrica, sem que estados e municípios tenham meios de enfrentá-la. Nas regiões Norte e Nordeste, o sistema de saúde entrou em colapso. Manaus, Belém, Recife e Fortaleza chegaram ao limite da capacidade.



A troca de ministros constitui rotina nos regimes democráticos. Titular de tal e qual pasta é demissível ad nutum. Quem aceita o cargo sabe que tem tempo de validade. Pode chegar ao fim do mandato presidencial ou ficar no caminho. São as regras do jogo.
O problema da exoneração de Luiz Henrique Mandetta e de Sérgio Moro é a oportunidade. Dar cartão vermelho ao ministro da Saúde no auge da pandemia é ato temerário. Assemelha-se a trocar o pneu com o carro a 100 quilômetros por hora. O mesmo ocorre com a saída do ministro da Justiça e Segurança Pública.

É hora de união. A pandemia não constitui objeto deste ou daquele titular ou ente federado. É questão transversal. Prefeitos, governadores, ministros e sociedade civil precisam se dar as mãos. São 211 milhões de brasileiros que, além de enfrentar a tragédia sanitária, têm de lutar pela sobrevivência.

Depois da recessão herdada do governo Dilma Rousseff, o Brasil teve dificuldade de entrar num círculo virtuoso de crescimento. Em 2020, a marcha lenta engatou a ré. Especialistas preveem retração de 4,5% do PIB. Esse cenário, agravado pela pandemia, precisa das forças de todos os segmentos para ser superado. Maquiar a realidade é fazer gol contra.