Jornal Estado de Minas

Cuidado, golpistas. O tiro pode sair pela culatra

Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras
Jornalista
 
Querem, a qualquer custo, derrubar o presidente Bolsonaro. No plano traçado pelo grupelho golpista, quem assumirá o posto não será o vice-presidente, general Heleno Mourão. O Congresso aprovaria mudança de regime, criando a figura de um novo titular para comandar o Poder Executivo com uma junta formada pelos presidentes do Senado e do STF. O novo chefe do governo, por escolha dos golpistas, seria, fácil adivinhar, o presidente da Câmara dos Deputados, o notório Rodrigo Maia.



Plano é plano, depende de se transformar em realidade. Daí a pergunta: os militares, os generais, almirantes, brigadeiros, concordariam? Permitiriam o golpe?. Alguns já se pronunciaram de forma contundente, logicamente contrária. Um deles foi mais radical, afirmando (seria fake news?) que reagiria a bala, fechando o Congresso, e, se necessário, também o Supremo Tribunal Federal. Os golpistas, disse o general, seriam presos, e se tentassem resistir, "furados pelas metralhadoras". Como se vê, a situação do país, por culpa daquele grupelho ambicioso e impatriota, não é tranquila. E sobre fake news: até o presidente foi enganado por uma informação falsa sobre a Ceasa-MG, que estaria desabastecida. A PF está chegando ao autor da mentira, dizem que ligado à própria Ceasa.

Não seria mais correto deixar o novo governo, que não cumpriu nem a metade de seu mandato, trabalhar em paz? Cuidando da ameaça do coronavírus e da crise econômica decorrente da paralisação das atividades normais? O presidente da Associação Comercial de SP, Alfredo Cotait Neto, desabafou: "O comércio, fechado desde o dia 24 de março, não aguenta mais ficar parado".

Pensem bem, senhores ambiciosos, desonestos, impatriotas. O tiro contra o regime democrático pode e deve atingi-los mortalmente. Não arrisquem, não provoquem. Precisamos, nesta hora difícil, de união, de ordem, de paz.



Uma parte, felizmente com exceções, da imprensa escrita e televisionada faz coro com os golpistas, os que só pensam em reassumir o governo para continuar roubando, como sempre fizeram. Omitem o que o governo faz de positivo, e a lista é grande, para noticiar e criticar o que seria negativo, ou o que deturpam das falas do presidente e de seus ministros. Até o noticiário sobre o coronavoucher que será distribuído entre os necessitados, os desamparados pela crise virótica, fixado em R$ 600 por Bolsonaro, só mencionou o nome do presidente, que o instituiu e vai pagar, quando ele o sancionou.

O vice-presidente, general Mourão, desmentiu o que jornalistas de uma emissora de TV comentaram sobre suas atitudes no decorrer do entrevero entre o governador João Dória, de SP, e o presidente. Segundo eles, Mourão teria demonstrado, em gestos, discordar da reação de Bolsonaro. No desmentido, o vice afirmou que maneou a cabeça por discordar do comportamento provocativo do govenador paulista. Nenhum jornal, pelo menos os que eu li aqui em BH, registrou o desmentido.

Bolsonaro promoveu reunião de ministros e secretários com a imprensa para esclarecer dúvidas a respeito das providências tomadas no combate ao coronavírus. Reunião de natureza técnica, científica, desvinculada da política, frisaram os ministros da Casa Civil, Braga Neto, e da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. Pois nenhuma pergunta foi feita sobre as medidas tomadas pelo governo, pelos que estavam lá representando seus veículos de comunicação. Todos insistiam em perguntar sobre o relacionamento de Mandetta com o presidente, sobre a possibilidade de o ministro ser demitido ou pedir demissão. O que levou o chefe da Casa Civil a negar a possibilidade de afastamento do ministro e lembrar que estavam ali para falar sobre a epidemia, não sobre temas diferentes. Mandetta completou, dizendo de seu ótimo relacionamento com o presidente e seus ministros. Aliás, um comentarista petista de uma TV anuncia todos os dias a demissão do ministro da Saúde...



A propósito, estranha a atitude da CNN Brasil: interrompeu o depoimento de um cientista sobre a epidemia, exatamente quando ele abordava, no mesmo raciocínio de Bolsonaro, as consequências graves que podem decorrer da paralisação de todo o comércio. Até tu, CNN?

Vale ressaltar posicionamento elogiável dos desembargadores da ativa e aposentados, ex-presidentes e vices, corregedores do Tribunal de Justiça de MG, doando parte do que recebem às Santas Casas de BH e do interior, que estão sem recursos para atender portadores do coronavírus. Encabeça a lista o ex-presidente da corte, desembargador José Fernandes Filho. Já os senadores querem liberar geral o pagamento de aluguéis, esquecidos daquela viúva que aluga a parte da frente de sua casa para, com a renda, ter o que comer. Não seria melhor que senadores e deputados, que ganham tanto, imitassem o gesto dos magistrados mineiros?

Jornais e TVs entrevistam e repetem declarações agressivas dos governadores Dória, de SP, e Witzel, do RJ. E omitem as dos sóbrios e ponderados governadores de MG, Romeu Zema, e de Santa Catarina, Carlos Moisés Silva. Lamentável.

Não concordo com tudo o que Bolsonaro faz e fala. Já disse que ele fala mais do deveria, como presidente da República, especialmente quando provocado por jornalistas mal-intencionados. Mas reconheço que ele é, pessoalmente, honesto e montou um ministério de altíssimo nível. Nenhum caso de corrupção aconteceu nos 15 meses de seu governo. Se fosse mais comedido, daria menos chance de agressões aos provocadores.