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Estátua! Quando é necessário se mover

Precisamos nos perguntar: o que repensar, recusar e não autorizar para que a exploração desmedida da natureza desacelere?


postado em 12/03/2020 04:00

Aleluia Heringer
Líder de sustentabilidade da Sociedade Inteligência e Coração (Sic) e doutora em educação


palavra “recorde” está associada a um desempenho excepcional, que supera os anteriores. O ano de 2020, que ainda mal começou, nesse sentido, é extraordinário! Já se superou em muitas provas; entretanto, tais feitos não são para comemorar. A Antártida registrou, em 13 de fevereiro, a temperatura de 18,3°C, a mais alta da história. No Ártico, também o recorde de 20°C, o que tem levado o Mar de Bering a descongelar em pleno inverno. Por detrás de tais proezas, a ação humana, segundo dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

A emissão de gases de efeito estufa que aquece o planeta, até 2030, precisa diminuir mais de 7% ao ano para que o aumento na temperatura média global seja de apenas 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais. Se mantivermos o ritmo nas emissões, a previsão dos climatologistas é de chegarmos a um aumento de 3,2°C, o que seria não mais uma crise, mas uma catástrofe climática irreversível. Para termos uma noção do que isso significa, a temperatura média global, em 2019, foi de 1,1°C acima dos níveis pré-industriais, o suficiente para provocar todos os eventos climáticos extremos que estamos presenciando.

Aqui cabem ações urgentes para alterar os modos de produção e consumo, como a revisão dos modelos de economia, desenvolvimento e progresso. A discussão polariza e pouco avança quando se trata de saber de quem é a responsabilidade. É dos grandes e poderosos ou dos indivíduos? Ingênuo considerar que uma crise de tamanha monta possa suprimir qualquer setor, pessoas ou nação. Há mudanças estruturais e de alta complexidade que dependem do esforço político e coordenado daqueles que detêm o poder. Oportuno destacar a lentidão nas respostas das grandes conferências internacionais, o que só contribui para agravar a situação.

Do outro lado, os indivíduos, pessoas simples e anônimas. Já entendemos que algo está fora de ordem e, dessa constatação, vem um outro recorde, que é da nossa apatia. Como é difícil mexer com estruturas de pensamento, hábitos, tradições e estilo de vida! E sobretudo parar a máquina econômica ou redirecioná-la. Em nível individual, parece que recebemos o comando da brincadeira: “Estátua!”. Congelamos e não mais saímos. Aquele que burla a regra e resolve se mover logo é desencorajado; afinal, “não adianta”, é o “sistema”. Ora, o tal “sistema” só muda por pressão do “mercado”, pois depende de consumidores que irão regulá-lo. Ele não é o vilão da história. Almeja apenas o lucro e vai nos entregar exatamente aquilo que o nosso desejo de consumo demandar. Pode ser o abacaxi, o carro voador, o aço ou a carne de cabrito. O sistema, nesse sentido, não tem moral.

Constatamos que, de forma despretensiosa, milhares de indivíduos estão impactando suas famílias, os amigos, sua escola, seu trabalho, as políticas públicas, o mercado, a mídia e a indústria. Não é algo planejado nem se tem clareza de onde tudo isso vai dar; ainda assim se movem, porque faz sentido se mover.

Há aspectos da vida social que só teremos clareza na longa duração e vendo do alto. Entretanto, o fluxo histórico é feito aqui e agora, conforme elucida o sociólogo alemão Norbert Elias no seu livro A sociedade dos indivíduos. Ele afirma que a história vai se construindo a partir das pressões exercidas “pelas” e “entre” as pessoas. Visto de perto, é pequeno o poder de uma pessoa, mas são essas microtensões que preparam o terreno para mudanças estruturais da sociedade ou efetivamente as acarretam. Nunca foi tão importante considerar essa perspectiva.

Precisamos nos perguntar: o que repensar, recusar e não autorizar para que a exploração desmedida da natureza desacelere? Com quem devemos nos conectar e em quais coletivos devemos nos inserir?. Podemos provocar e ajudar a escrever novas manchetes e recordes que sinalizem para nossa mudança de estilo de vida, consumo e valores. Essa escrita começa com o indivíduo, no seu caderno chamado “sua vida”, e vai se entrelaçar com muitas outras histórias até, quem sabe, mudar a história.


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