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A integração global do Brasil

Nada há de errado em exportar commodities, mas é muito melhor lhes agregar valor dentro do território nacional


postado em 28/12/2019 04:00

Fernando Valente Pimentel
Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit)

Adiscussão sobre a maior inserção comercial do Brasil no contexto global, cuja agenda deverá ter novos desdobramentos no ano novo, e a realização da Olimpíada de Tóquio em 2020 suscitam uma analogia sobre o ritmo, intensidade e timing desse necessário movimento. Não estamos misturando alhos com bugalhos, mas, sim, propondo um exercício simples de lógica, com foco na isonomia das condições de competir.

O torneio de Futebol Olímpico teve, entre 1952 e 1980, somente seleções dos então países do Leste Europeu como ganhadoras da medalha de ouro. Tal hegemonia deveu-se ao fato de as então nações socialistas da região disputarem a competição com suas seleções principais, constituídas por amadores de fachada, jogando contra times de juniores e aspirantes do Ocidente. A Fifa não permitia profissionais no futebol olímpico para não esvaziar a Copa do Mundo. O equilíbrio só ocorreu quando ficou definido que as equipes de todos os participantes seriam constituídas por atletas sub-23, reforçados por máximo três com idade superior.

A concorrência entre desiguais transposta para a economia resulta em desinvestimento, desindustrialização, desemprego e queda do PIB. Assim, não é sensato propor movimentos acelerados de alterações tarifárias por parte do Brasil e seus parceiros do Mercosul, sem que se avance, concomitantemente, nas soluções para os problemas mais graves que limitam nossa competitividade sistêmica.

Sabemos que a participação do nosso país no comércio global está aquém do potencial, e há um consenso quanto à necessidade de maior integração. Porém, isso precisa ser feito, preferencialmente, no âmbito dos acordos multilaterais, como o firmado entre o Mercosul e a União Europeia, ou bilaterais, conforme se preconiza nos diálogos com o Canadá, Coreia do Sul, Cingapura, Japão e México. Somente assim se estabelecem as contrapartidas e exceções necessárias.

Nossas taxas alfandegárias não são um privilégio, como às vezes se fala, mas parte de uma realidade possível ante os elevados custos sistêmicos que as empresas têm de suportar e que não encontram paralelo nos nossos principais concorrentes. É preciso reconhecer isso e ter sabedoria para consertar o que for necessário.

É claro que não podemos estar satisfeitos com a trajetória da inserção do Brasil nas redes globais de valor dos últimos 30 a 40 anos, pois perdemos posição relativa no comércio mundial e aumentamos, sensivelmente, a proporção de produtos primários em nossa pauta exportadora. Uma ressalva: nada há de errado em exportar commodities, mas é muito melhor lhes agregar valor dentro do território nacional, aumentando, assim, nossas receitas e a geração de emprego.

Há estudos que mostram os sobrepesos que temos de carregar para produzir no país, como o realizado no âmbito do recém-lançado programa Redução Contínua do Custo Brasil, do Ministério da Economia, em parceria com o Movimento Brasil Competitivo e 13 associações empresariais, com apoio técnico da fundação Center for Public Impact, do Boston Consulting Group. Os elevados ônus de nossa produção derretem R$ 1,6 trilhão anualmente quando comparados com a média dos 36 países que compõem a OCDE. O valor é equivalente a cerca de 22% do PIB nacional e ao dobro do referente à indústria de transformação (cerca de R$ 800 bilhões).

Para solucionar esses problemas, há medidas imprescindíveis, incluindo a modernização da infraestrutura de transportes, reforma tributária, desburocratização, mais segurança jurídica, queda dos preços da energia e ampliação das fontes e do acesso aos financiamentos. Também é decisivo um choque de qualidade no ensino, cuja precariedade reflete-se na baixa produtividade do trabalho, que voltou a cair, fechando o ano com recuo de 0,7% e atingindo o resultado mais baixo desde 2015. Esse quadro onera a indústria, setor mais exposto à concorrência internacional, bem como o agronegócio, o comércio e os serviços. Todos os segmentos precisam ser fortes, e o Brasil tem potencial para isso. Aspecto positivo é que, pela primeira vez em 30 anos, temos taxas de câmbio e juros na direção correta, condições, que, mantidas, melhorarão nossa competitividade.

Infelizmente, a isonomia concorrencial não pode ser estabelecida por mera medida administrativa, como a mudança de idade dos jogadores, como fez a Fifa. Há toda uma agenda de transformações estruturais a ser cumprida. Até lá, nem precisamos recorrer ao VAR para constatar os ônus que carregamos, os quais dificultam a concorrência das empresas nacionais na arena mundial dos negócios. Cabe lembrar que, no jogo do comércio exterior, não prevalece o ideal olímpico de que o importante é competir. É crucial, pelo menos, não perder, pois cada derrota significa o sacrifício de milhares de empregos, fechamento de empresas e adiamento do pódio do desenvolvimento.

Não devemos, porém, nos resignar a não perder. O que temos de fazer é trabalhar sem parar, no setor público e no privado, para aumentar nossos negócios com o mundo de maneira dinâmica, explorando todo o nosso potencial, fomentando P&D, estimulando investimentos e gerando milhões de postos de trabalho. Para isso, precisamos de uma agenda clara, previsível e transparente.

A indústria nacional, como a têxtil e de confecção, já exportou mais do que atualmente e está pronta para participar de modo mais intenso do comércio global. O setor não é ensimesmado, não quer privilégios e subsídios, mas apenas condições isonômicas para competir, não apenas em nosso mercado de 209 milhões de habitantes, como no contexto dos mais de sete bilhões de terráqueos. Temos plenas condições de vencer esse jogo!


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