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Tricentenário de Minas Gerais

Dialogar com o passado de olho no futuro, eis o desafio que o tricentenário de Minas Gerais nos apresenta em 2020


postado em 04/12/2019 04:00

Américo Antunes
Jornalista
 
 
 
O tricentenário da criação do Estado de Minas Gerais em 2020 é um daqueles momentos únicos na história que permitem trazer à ordem do dia não só a reflexão e o debate sobre o passado, mas, principalmente, sobre os desafios dos próximos séculos. Afinal, como nos ensinou o escritor José Saramago, sem conhecer a história nos arriscamos a retroceder à era dos grunhidos, daí se concluindo que um povo que desconhece a sua história tem os olhos fechados para o futuro.
 
E a história mineira nos oferece um verdadeiro índice de lições e aprendizados. Se desde a virada do século 17 a descoberta do ouro já promovia a rápida ocupação do interior então         desconhecido do atual território mineiro, os       alicerces do estado que conhecemos hoje remontam à criação da Capitania das Minas Gerais em 2/12/1720, desmembrada da Capitania de São Paulo e Minas do Ouro.

Já em seu nome de batismo, o estado que nascia reverenciava a sua diversidade. A do ouro, as Minas, e a dos sertões, os Gerais. Gravitando em torno de Mariana, Ouro Preto, Sabará, Caeté, Pitangui, Serro e São João del-Rei, entre outras vilas, as minas marcariam a nossa formação econômica, social, política e cultural nos séculos seguintes, primeiro com o ouro e o diamante, depois com o ferro e o manganês, e, agora, também com o nióbio e o grafite.

Por sua vez, os gerais do Rio São Francisco, cujo epicentro localizava-se em torno da fronteira pecuária e agrícola do então Arraial de Matias Cardoso, hoje cidade, logo se estenderiam a todas as regiões com o gado, a cana-de-açúcar, a mandioca, o milho, o café ou a soja nos dias de hoje.

Eram vocações que desde a descoberta do ouro estavam mudando, radicalmente, o padrão da ocupação do território brasileiro, até então   restrita ao litoral. De fato, em apenas três décadas – entre 1690 e 1720 – o ouro atraiu milhares de aventureiros ao interior então desconhecido da colônia, em um processo de conquista e ocupação feroz, lastreado tanto no genocídio indígena e na exploração do trabalho escravo quanto em conflitos entre os próprios conquistadores ou com a Coroa portuguesa.

Assim, ao contrário de cordial e gloriosa, a ocupação seria marcada por conflitos que estão na gênese da formação do estado. Como a Guerra dos Emboabas, que opôs bandeirantes paulistas, forasteiros e administradores coloniais entre 1708 e 1709. Ou os motins do Rio Vermelho, de Pitangui e da barra do Rio das Velhas e a Sedição de Vila Rica contra a cobrança do imposto de 20% sobre o ouro ou a instalação das casas de fundição, que eclodiram entre 1713 e 1720.

Mesmo com a criação da capitania e de seu aparato administrativo e militar, revoltas se sucederiam durante todo o período colonial. Em 1736, criadores de gado e fazendeiros do São Francisco se rebelaram em armas contra a voracidade tributária da Coroa portuguesa e, em 1789, seria a vez de a Inconfidência Mineira le- vantar pioneiramente a bandeira da independência do Brasil de Portugal.

Pós-1822, outras "inconfidências" eclodiriam durante o Império (Revolução Liberal), a República Velha (Revolução de 1930 e 32), o Estado Novo (Manifesto dos Mineiros) ou a ditadura militar, e forjariam a Nova República, em 1985.

Como destino de grande parte dos povos arrancados da África, Minas Gerais seria também palco de rebeliões contra a servidão, a exemplo da revolta de Vila Rica, em 1720, quando os escravos planejaram eliminar os senhores durante a Missa das Endoenças. Delatados, os líderes foram decapitados, mas as sementes da revolta frutificariam e pontuariam o território mineiro de comunidades livres e quilombolas, para além do período colonial e até da abolição da escravidão.

Histórias de conflitos, diásporas e escravidão que, paradoxalmente, levaram ao florescimento de uma sociedade e de uma cultura singular, fruto da força criativa de matrizes indígenas, africanas e europeias. Não é por acaso, portanto, que o estado reúna hoje mais da metade do patrimônio cultural tombado no país, entre os quais quatro reconhecidos mundialmente: Ouro Preto, o santuário do Bom Jesus, em Congonhas, o Centro Histórico de Diamantina, e o complexo da Pampulha, em Belo Horizonte. Tal acervo revela, também, que por aqui a tradição nem sempre restringiu a capacidade de inovação, como ensina a epopeia da construção planejada da capital mineira na última década do século 19.

Enfim, a história mineira nos apresenta um conjunto de informações e testemunhos sobre fatos e caminhos trilhados que, interpretados em toda a sua complexidade e dimensões, são fundamentais para a reflexão sobre o presente e é essa reflexão que nos permite vislumbrar o futuro, ao alertar sobre o que deve ser visto com cuidado ou evitado. Dialogar com o passado de olho no futuro, eis o desafio que o tricentenário de Minas Gerais nos apresenta em 2020.





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