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Estado de Minas EDITORIAL

Consciências despertadas

A desconstrução do racismo impõe uma resistência diária contra os desrespeitos individuais e coletivos


postado em 20/11/2019 04:00

Hoje, 20 de novembro, é a data da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695, aos 40 anos. Líder do Quilombo dos Palmares, na Serra da Barriga, Zona da Mata de Alagoas, ele se tornou um ícone da resistência dos negros contra a escravidão imposta pelos colonizadores europeus. A data, por inspiração deste líder, foi transformada em Dia da Consciência Negra. Em mais de 1.200 cidades brasileiras, hoje é feriado. Os movimentos sociais organizam uma série de eventos contra o racismo, um dos mais graves legados da escravidão.
 
Cento e trinta e um anos depois da abolição da escravidão, o Brasil não deixou de ser escravocrata, segundo o jornalista e escritor Laurentino Gomes, um homem branco, autor da trilogia Escravidão, cujo primeiro volume foi lançado há dois meses. "A ideologia racista, usada no passado para justificar o tráfico negreiro, permanece, ainda hoje, oculta nas formas preconceituosas de relacionamentos entre brancos e negros", afirmou Laurentino.
 
Embora o tecido demográfico do país seja um entrelaçado de fibras dos povos originários e dos que aqui aportaram desde o início do século 16, grande parte dos brancos ainda enxerga os negros como seres inferiores, sem inteligência, sem capacidade para atividades mais complexas. Essa parcela da sociedade sonha – e só pode sonhar – com um Brasil branco, como o padrão europeu. Mas não há como apagar da espiral genética o DNA negro, indígena e outros que carrega e que dão ao país a singularidade de miscigenação, da pluralidade e da diversidade étnica e cultural.
 
Essa visão equivocada e esquizofrênica de supremacia branca, alheia aos valores civilizatórios do século 21, impõe aos pretos e pardos maior consciência negra. E o que vem a ser essa consciência, que, se evoluídos fôssemos, teria a harmonia e o respeito como tons dominantes na relação entre as pessoas? Para o ativista negro sul-africano antiapartheid Steve Biko, assassinado aos 30 anos, em 1977, pelas forças racistas da África do Sul, "ser negro não é uma questão de pigmentação, mas o reflexo de uma atitude mental. Pela mera descrição de si mesmo como negro, já se começa a trilhar o caminho rumo à emancipação, já se está comprometido com a luta contra todas as forças que procuram usar a negritude como um rótulo que determina subserviência".
 
São muitos os personagens no país que demoliram muros, construídos com as pedras do racismo, e edificaram uma trajetória exitosa nos mais diferentes ramos das atividades econômicas. Fizeram emergir, entre os que ainda se constrangem devido à pele negra, o orgulho de sua ancestralidade africana e a própria consciência negra. Mostraram que uma das formas de vencer as barreiras do preconceito não se dá apenas pelo discurso, mas pelas atitudes que tornam incontestes a capacidade laboral, empreendedora e intelectual dos negros.
 
O despertar dessa consciência negra passa pelo entendimento de que estar na senzala ou na casa-grande não faz nenhuma diferença: todos seguem vítimas de um regime escravocrata, que subjuga, deprecia e humilha não só os negros, mas todos aqueles considerados diferentes ou com pouco ou nenhum poder de consumo. A desconstrução do racismo impõe uma resistência diária contra os desrespeitos individuais e coletivos. Implica recorrer à legislação vigente e cobrar das autoridades o cumprimento dos marcos legais na sua integralidade. Passa, sobretudo, por mudanças no sistema educacional, que valoriza a cosmovisão eurocentrista em detrimento da afro-brasileira, que deu – e ainda dá – enorme contribuição ao desenvolvimento socioeconômico do país. Exige um despertar de todas as consciências, independentemente da cor, para o significado de ser humano.editorial


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