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Evolução das espécies e os dogmas religiosos

A cada dia, a ciência nos desvenda o universo. Contudo, a filosofia parou emparedada pelas religiões


postado em 06/10/2019 04:00 / atualizado em 05/10/2019 18:41

Sacha Calmon
Advogado, coordenador da especialização em direito tributário da Faculdades Milton Campos, ex-professor titular da UFMG e UFRJ

 

O homem entrou na biosfera silenciosamente, disse-nos Chardin, e a chama da consciência ardeu em crescente luminosidade. Jamais conseguiremos precisar a data exata perdida no tempo evanescente. Mas algo espetacular aconteceu. Pela primeira vez, um ser vivo e complexo pôde mirar o firmamento e o mundo ao seu derredor, e dizer: “Eu sou e não sou os outros seres”. Consciência de si e do mundo. E dizer que tudo começou há bilhões de anos, com um rasgão incandescente de matéria sideral rolando pelo espaço. Rolando e se enrolando sobre si mesma, mas parando a uma distância ótima do Sol.
Aos primeiros homens e mulheres, quão estranho e assustador deve ter sido o passo da reflexão. Àquela altura, deuses não havia, mas desde o início eles inventaram muitos para explicar o universo. A reflexão, passo decisivo que mudaria a face do planeta, tornando-o à medida do homem! Para os criacionistas, todas as coisas foram feitas juntas num único átimo de tempo, algo impensável, como nos demonstram todas as ciências, mormente a paleontologia, a arqueologia, a física, a geologia, a botânica, a sociologia, a química, a biologia, a astronomia e a antropologia.

Há um sentido na epopeia que começou com o nascimento do planeta, o surgimento das moléculas, dos seres animados, da evolução das espécies, da estreia do homem no cenário terráqueo, dotado de pensamento, razão e reflexão psicológica? Que motor fez surgir ao longo de bilhões de anos, sempre e cada vez mais, a complexidade das coisas da simplicidade primeva? A energia se concentrou no “dentro” das coisas e dos seres, tornando-os, crescentemente, mais complexos, mais perfeitos e mais conscientes se comparados com as etapas evolutivas anteriores. Uma vez que o homem, dotado de consciência e razão culminou, que rumo tomará a flecha da evolução? Essas são as questões das quais devem se ocupar a filosofia e as ciências.
A cada dia, a ciência nos desvenda o universo. Contudo, a filosofia parou emparedada pelas religiões, que são cosmovisões fixas e imutáveis. De fora partem as tradições do Himalaia e da Ásia, para lá da cordilheira no rumo do Oriente, que intuíram um ser criador despsicologizado, inapreensível pelo pensamento, o mundo para cá da cordilheira – nesse ponto e metaforicamente um divisor de águas, sempre acreditou num ser criador psicologizado. Noutras palavras, um Deus criador e cuja psicologia pode ser apreendida e entendida a partir de nossos padrões psicológicos. É do mundo dito ocidental que estou a falar.

Os filhos da terra-mãe que se ramificaram a partir da região à volta do atual Irã, centro difusor dos arianos, e, consequentemente, do mundo chamado caucasiano (brancos) ou judaico-cristão, são todos criacionistas, adeptos de fés reveladas por Deus, mediante interlocutores escolhidos nos últimos sete mil anos. Tempo recentíssimo, é preciso dizer, mas tempo tardio demais, levando-se em conta a idade da humanidade (Zaratustra, Moisés, Jesus, Maomé).

O mundo ocidental, portanto, acredita, e falo de multidões, que o universo e o homem foram criados de uma vez só por um Deus pessoal, dotado de psicologia igual à nossa. Somos filhos de Adão e Eva (e depois do Noé pós-diluviano), obrigados a sair do paraíso (expulsos, como diz a Bíblia) pelo pecado da desobediência a Deus, depois que Eva, a pecadora primordial, induziu Adão a comer uma maçã que estava pendurada numa árvore, seduzida em uma trama esperta urdida por uma serpente falante, símbolo de um sub-Deus negativo, contraposto ao Deus positivo e criador (bem e mal já existentes). A crer-se na ciência contemporânea, as coisas não apareceram juntas, mas por evolução. O jardim do Éden é feito na semana da criação, extremamente laboriosa, a ponto de fazer o Senhor Deus descansar. Deus não se cansa, isso não merece fé!
Essa fábula mitológica, tão ingênua mas sagaz pela invenção do “pecado original”, é a base das três grandes religiões reveladas e suas inúmeras seitas e divisões: o judaísmo, o cristianismo, o ortodoxo ou papal, ou protestante, e o islamismo wahabita, xiita, alauita ou sunita, além de outros segmentos. O que as fazem tão sedutoras? Em primeiro lugar, o que pesa – é que foram supostamente reveladas por Deus. Em segundo lugar, satisfizeram uma exigência primária do pensamento humano àquela altura: o postulado de que Deus, para ser Deus, tem que ser o poder supremo, a legislar, administrar e julgar a humanidade a partir de um código ético-religioso de observância obrigatória, conducente à felicidade das sociedades e das criaturas nesta vida e no além.

Nunca o vi atuando, somente padres, bispos, mulás e aiatolás, além de rabinos transmitindo as lendas e dogmas de suas religiões, a prometer prêmios e castigos eternos aos homens (crianças temerosas).

A fé supera qualquer desrazão. Como é importante a fé! Bastam Adão, a cobra e Eva. O resto da religião segue por tradição e imposição.


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