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Suicídio, assunto negligenciado

A prevenção do suicídio não cabe apenas aos médicos, psiquiatras e outros profissionais de saúde


postado em 28/09/2019 04:00

Humberto Correa
Presidente da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), da Associação Brasileira para o Estudo e a Prevenção do Suicídio (Abeps) e presidente da Associação Latino-americana para a Prevenção do Suicídio (Asulac)
 
 
 
 
O suicídio é um dos principais problemas de saúde pública atuais e suas repercussões são graves, tanto em nível social quanto familiar. Para cada suicídio, pelo menos cinco pessoas são profunda e duradouramente impactadas. Cerca de 800 mil pessoas morrem por suicídio todos os anos no mundo, uma a cada 40 minutos, mais do que todas as mortes provocadas por guerras e homicídios. E mais grave ainda: é a segunda causa de morte entre jovens com idade de 15 a 29 anos. No Brasil, estima-se cerca de 12 mil suicídios a cada ano (número certamente subestimado), com taxas crescentes, particularmente em homens jovens, onde se observou um aumento de 30% nas últimas duas décadas. Entre os homens, no Brasil, o suicido é a terceira causa de morte na faixa etária que vai de 15 a 29 anos, seguida dos homicídios e dos acidentes automobilísticos.
Vivemos em um país muito violento!

Sabemos, hoje, que praticamente 100% dos suicidas têm um transtorno psiquiátrico que, muitas vezes, não fora diagnosticado ou corretamente tratado. O sofrimento causado pela doença psiquiátrica, aliado a outros fatores, pode levar a pessoa a pensar em se matar.

Identificar rapidamente pessoas com transtornos psiquiátricos, principalmente depressão, pessoas que falam em se matar, e sugerir a elas um tratamento adequado, o mais rapidamente possível, é algo que todos podemos e devemos fa- zer. Pressionar o poder público para estabelecer campanhas e estratégias de prevenção, com um serviço de saúde mental eficaz e acompanhamento efetivo de todas as pessoas que fizerem tentativas graves de suicídio, todos nós devemos fazer. Investir em mais estudos e pesquisas sobre o tema nos permitirá melhor compreendê-lo e prevenir o ato.

O suicídio é, entretanto, cercado de um tabu milenar. Todos nós conhecemos alguém próximo que morreu por suicídio, ou fez uma tentativa grave. A despeito disso, não falamos no assunto, ou o fazemos à boca pequena. É um assunto proibido. Não temos grande cobertura por parte da mídia, que, na maioria dos casos, acredita, erroneamente, que abordar o assunto incentivaria a prática. Falar sobre o tema, de forma repetida, exaustiva, quando algum famoso se suicida, não ajuda em nada. Temos que discuti-lo sim, mas de forma tecnicamente correta, evitando sensacionalismos,               exercendo o papel social que nos cabe a todos na prevenção desse problema.

A prevenção do suicídio não cabe apenas aos médicos, psiquiatras e outros profissionais de saúde. Aliás, médicos e, particularmente as médicas, são grupo de risco para suicídio. É uma responsabilidade de toda sociedade: poder público, jornalistas, escolas, igrejas, famílias...

Pensando nisso, desde 2003, a Internation Association for Suicide Prevention (IASP), em parceria com a Organização Mundial da Saúde (OMS), instituiu o Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, em setembro. O objetivo é conscientizar e mobilizar a sociedade para a tomada de ação no enfrentamento a esse problema.

A OMS também convidou seus países-membros para uma ação visando à redução do número de suicídios. O Brasil, signatário desse compromisso, viu, por falta de políticas públicas minimamente adequadas, suas taxas aumentando nas últimas décadas. Vários países conseguiram construir eficazes estratégias de prevenção do suicídio e reduziram essas mortes. O Brasil, não!

Desde 2015, por iniciativa da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Centro de Valorização da Vida (CVV), foi instituído o Setembro Amarelo. Imediatamente, várias entidades se engajaram nessa luta, que se tornou uma campanha da sociedade brasileira. Essa campanha, vitoriosa, mobiliza todo o país. Vemos prédios e monumentos iluminados, caminhadas, eventos científicos, discussões em cada um dos 5.570 municípios brasileiros. É a mobilização da sociedade que pressiona o poder público a fazer a sua parte, a assumir sua responsabilidade.

Em 26 de abril de 2019, foi publicada a Lei 13.819, que, finalmente, institui a Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio, a ser implementada pela União, pelos estados, municípios e Distrito Federal. Uma grande vitória! Temos um primeiro instrumento no Brasil para a efetiva implementação de uma política voltada à prevenção do suicídio em nosso país. Para que não se torne letra morta, devemos manter nossa mobilização pela prevenção do suicídio. O suicídio pode ser prevenido!




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