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Estado de Minas

Falsas promessas, imprensa, injustiça


postado em 09/09/2019 04:00

Fábio P. Doyle
Da Academia Mineira de Letras
Jornalista

Não é que sua decisão não seja compreendida. Mas evidencia quanto de promessas imprudentes e inexequíveis são deglutidas pelo eleitorado crédulo. Refiro-me ao governador eleito Romeu Zema. Quanta promessa não cumprida! Quanto programa anunciado na campanha que permanece nos anúncios do então candidato. O eleitor pode ser ludibriado, enganado?

Ele, ao recuar, pode ter suas razões. Afinal, promessas eram  recursos demagógicos criados por sua assessoria para conquistar votos. Mas ele sabia que seria assim. Foi o que confessou ao dizer que prometeu o impossível "por não acreditar que seria eleito". Ou seja, tudo era "marketing" eleitoral!

Juliana Cipriani, excelente repórter do EM, enumera as principais traições ao eleitor que nele acreditou. E votou. Entre elas, a de que não aceitaria mordomias, como usar helicópteros e veículos do governo para viagens. Está usando. Não permitiria acréscimos, que chamou de "puxadinhos" salariais, para secretários  e assessores, tais como jetons pagos por conselhos de empresas públicas, golpe usado e abusado por seu antecessor, o petista Pimentel, que deixou Minas falida. Os jetons continuam. Seu secretariado trabalharia de graça. Todos recebem salários e "puxadinhos". Secretários, assessores, diretores seriam técnicos, escolhidos sem influência política. O que prepondera é a indicação partidária. Demitiria todos os ocupantes de cargos em comissão  da administração anterior. Muitos ficaram. Extinguiria 80% dos cargos comissionados. Extinguiu 40%.

Mas nem tudo ficou apenas na promessa. Muita coisa boa foi feita. Na semana passada, foi inaugurado o museu que prometeu instalar no Palácio das Mangabeiras. Acredito em suas boas intenções. Mas terá que enfrentar a má vontade, a falta de espírito público de uma legião de poderosos servidores do Executivo, do Legislativo e até do Judiciário. 

Romeu Zema, calouro na administração pública, soube administrar campanha eleitoral em que aparecia lá no final da lista dos prováveis. Que os erros, os excessos, os exageros  que cometeu, e dos quais se arrependeu, na marquetagem sirvam de lição para ele e todos os candidatos, e que não se repitam. E que tenha boa sorte no desempenho de suas funções. É o que os mineiros esperam dele.

Imprensa
 
A imprensa está em crise, é o que todos dizem. Mas não é bem assim. A imprensa – jornais, rádios, TVs – quando cumpre corretamente o seu papel de informar, de analisar, de criticar, de mostrar caminhos não deverá desaparecer. Profissionalismo, dedicação, empenho na busca da notícia e bom senso na sua  análise são indispensáveis ao sucesso de qualquer veículo da mídia. Colunistas que se satisfazem em publicar notas, releases, às vezes fake news, que recebem, de interesse restrito, que não se deslocam para cobrir um evento a fim de bem transmiti-lo ao leitor, contribuem para o desgaste e para a crise temida. Felizmente, ainda há excelentes profissionais em atividade. E colunas sérias, aqui e  acolá, como a mantida, e sempre citada, por um tradicional jornal paulista. Outros órgãos, de SP e do RJ, antes respeitáveis, hoje já não o são tanto, por ter perdido a isenção na cobertura política. O que em Minas, felizmente, não aconteceu. Aproveito  para registrar o cinquentenário do Jornal Nacional, na época um exemplo de renovação televisiva, hoje sujeito a críticas por falta de credibilidade informativa, provocada, certamente, pela renovação saudável dos que governam o país.

Injustiça Nunca o Judiciário brasileiro foi tão criticado, nunca seus integrantes foram obrigados a ouvir tantas acusações. Nunca o STF foi tão desmoralizado diante da opinião pública. Os que, no passado, sempre se referiam à Suprema Corte e a seus integrantes, com tanto e justo orgulho,  hoje se espantam, especialmente, com o silêncio dos que, supostamente, não dão causa às críticas, às acusações.

A crise contamina todo o sistema jurisdicional, com exceções, naturalmente. Percebe-se uma tendência  de amenizar as sentenças, as condenações. No caminho da impunidade. O que incentiva mais  violência nos assaltos, em atritos no trânsito, nas ruas, nos lares. Sempre, no noticiário policial, com a informação final decepcionante: "Ninguém foi preso". Por  deficiência do aparelho policial, por covardia dos que deveriam enfrentar o crime, apurar e prender os criminosos, e mais e mais, ou tudo somado e multiplicado. As vítimas são enterradas, as famílias sofrem a perda, os bandidos, os facínoras permanecem soltos.

O caso mais emblemático foi o que vitimou o próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, na época candidato em campanha. Ele foi esfaqueado diante de milhares de pessoas. Escapou da morte graças à competência médica dos que o atenderam, primeiramente em Juiz de Fora. Foi submetido a três operações de alto risco. Agora, tantos meses depois, a mais uma. O esfaqueador foi considerado  inimputável, ou seja, nunca será punido. Justificativa: doente mental, teria sofrido um surto no momento do crime. Piada médica e judicial. Pois o crime foi planejado com minúcias, o criminoso viajou de sua cidade, reservou e pagou antecipado a diária do hotel, certamente preparando a sua fuga. Comprou o facão, escondeu-o dentro de um jornal, escolheu na véspera o melhor momento para agir, cometido o crime, tentou fugir. Quatro advogados se deslocaram no mesmo dia do crime para Juiz de Fora, para defendê-lo.

Que surto  foi esse, senhores doutores da medicina e da magistratura? O criminoso está em um hospital para "curar" a doença, Bolsonaro, a vítima, continua a peregrinar pelas salas e mesas de cirurgia. E é presidente da República!

 
Errata
No artigo do dia 2, por falha gráfica, não do original, a frase correta sobre a sra. Macron é: "Ainda com muitos traços de beleza da juventude, que todos um dia perdem, inclusive a bela mulher do que fez, ou apoiou, o comentário indevido".


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