Jornal Estado de Minas

Como ser pai e mãe ao mesmo tempo?


Os dias começam com uma longa lista de afazeres. Acordar antes de todos em casa, preparar o café da manhã, acordar os filhos e prepará-los para a escola, garantir que tudo esteja em seu devido lugar, e, só assim, sair para trabalhar e enfrentar o mundo. A maioria das mães já se vê nessa descrição de tarefas, que são refeitas diariamente. No entanto, essa rotina tende a ficar ainda mais árdua para aquelas mães que também representam as figuras paternas em seus lares.

Agora, imagine ser uma mãe em busca da consolidação profissional e estabilidade financeira, e ainda ter que assumir uma posição suplementar em sua casa? Essa realidade complexa e desafiadora foi imposta à minha vida a partir do falecimento do meu marido e pai da minha filha, mas também se faz presente na vida de várias outras mulheres que passaram por divórcios ou optaram por estar sozinhas.

No meu caso, com a ausência do meu marido, fui obrigada a assumir uma série de obrigações. As minhas funções iam desde oferecer os cuidados necessários à minha filha até arcar com a organização, despesas e problemas provenientes da casa. E para ter uma renda suficiente, eu também precisava trabalhar. Algo que naquela época era muito difícil, pois a minha filha tinha somente um ano e meio e demandava muita atenção e diversos cuidados.

Esse tipo de situação tornou-se muito comum ao longo dos anos, e isso pode ser exemplificado por dados recentes de uma pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que apontou que o número de lares brasileiros regidos por mulheres solteiras aumentou de 23% para 40% em 20 anos de análise.

Esse contexto se mostra alarmante devido às grandes dificuldades que rondam a vida da maioria das mulheres. Ainda hoje, recebemos salários não equivalentes aos dos homens e temos pouco espaço de competitividade no mercado de trabalho.  Mesmo com todas essas injustiças, consegui administrar as necessidades do meu lar, assumindo, assim, o papel de pai e mãe para a minha pequena filha.

As necessidades da minha filha eram múltiplas, pois, ao mesmo tempo em que eu devia ser uma mãe presente, também era essencial ser a amiga e exemplo de mulher firme, forte e decidida em que ela pudesse se espelhar.
No entanto, a parte mais injusta da chamada ‘jornada dupla’ é o sentimento de insuficiência paternal, que nos faz crer que somente o modelo de família tradicional pode dar o aporte suficiente para a formação de um adulto sadio física e emocionalmente. 

Apesar dos pesares, acredito que ser mãe em dupla jornada é uma tarefa bastante honrosa. Mais do que isso, observo que ser pai e mãe simultaneamente é provar que é possível permanecer de pé ante as adversidades e situações que a vida reserva. Há um velho dito popular que diz que “ser mãe é padecer no paraíso”. Vejo que as mães, além de 'padecer' no paraíso, suportam com fervor o peso das responsabilidades.

Com o Dia dos Pais se aproximando, sinto que também devo comemorar, pois ele lembra que todo o cansaço e adversidades valeram e ainda valem muito a pena. Sendo mãe, pai e conselheira, percebo que o meu papel na vida da minha filha é muito maior do que o de simplesmente provedora ou educadora. Também preciso ser aquela pessoa que entende o que ela diz ou até mesmo o que ela não diz em palavras. Ser mãe é padecer no paraíso sim, mas ser mãe e pai é desfrutar da trajetória.

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