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Estado de Minas

É hora de somar, não de dividir

Em qualquer nação, o presidente eleito não governa só para os que o elegeram, mas para todos os cidadãos


postado em 21/07/2019 04:14

A incontinência verbal do presidente Donald Trump, dos Estados Unidos, o coloca, mais uma vez, em confronto com o Congresso norte-americano. Ele reagiu com expressões racistas e xenófobas contras as deputadas democratas Alexandria Ocasio-Cortez, de ascendência porto-riquenha, Ilhan Omar, natural da Somália, Ayanna Pressley, descendente de africanos, e Rashida Tlaib, de origem palestina. “Voltem para os seus países, em vez de dizer ao país mais poderoso da Terra como deve ser governado”, recomendou o republicano, por meio do Twitter.
 
O quarteto foi eleito em novembro último. Três nasceram nos Estados Unidos e só Ilhan Omar foi naturalizada cidadã dos EUA. Os democratas, maioria na Câmara, com o apoio de quatro republicanos, aprovaram moção contra Trump. Mas ele ignorou o gesto dos parlamentares em defesa das colegas. Pouco se importou também com a desaprovação do seu comportamento pela primeira-ministra britânica, Thereza May, e pela chanceler alemã, Angela Merkel.
 
Em campanha pela reeleição — os americanos voltam às urnas no próximo ano —, o republicano voltou a atacar as deputadas, principalmente a somali Ilhan Omar, durante comício na Carolina do Norte. Os eleitores aprovaram e, aos gritos, sugeriram que o presidente a mandasse de volta ao país de origem. Com o apoio popular, ele tomou mais fôlego e rotulou as deputadas de “comunistas”, sempre usando o Twitter para reverberar seu discurso.
 
Os ataques, avaliam especialistas, fazem parte da estratégia para Trump se fortalecer ante seus eleitores — conservadores, ultradireitistas e supremacistas brancos. Ele tenta se colocar como vítima do racismo reverso. Ou seja, os intolerantes seriam os imigrantes e seus descendentes. As críticas das democratas ao seu governo expressariam o preconceito dos negros e dos estrangeiros em relação aos brancos americanos.
 
A inversão do discurso do líder da maior nação do globo pode contaminar outros países que fizeram uma opção por mandatários de direita, como é o caso do Brasil, onde o racismo persiste e, ao longo de séculos, foi escamoteado pela falsa democracia racial. Os números da violência são indicadores de que a exclusão de negros das políticas públicas é uma realidade cruel. Dos mais de 63 mil homicídios por arma de fogo registrados em 2017, quase 72% das vítimas eram pretos e pardos entre 15 e 29 anos. O machismo tem alta participação no quadro de violência crescente no país. A cada 11 minutos, uma mulher é vítima de estupro ou morta.
 
A parceria comercial com os Estados Unidos, bem como com outras nações desenvolvidas, se coloca como essencial ao Brasil, que tenta superar danos da crise econômica de 2014. Porém, o país não pode importar um discurso de ódio contra estrangeiros (xenofobia), que marcou a campanha de Trump, nem incitar o acirramento do racismo étnico, ambiental e institucional, menos ainda desconsiderar a miscigenação, característica marcante do tecido social brasileiro.
 
Em qualquer nação, o presidente eleito não governa só para os que o elegeram, mas para todos os cidadãos, independentemente de cor, raça, credo, gênero ou ideologia. Critérios discricionários são fontes de injustiça e não contribuem para avanços sociais e econômicos, essenciais ao bem-estar coletivo. A fragmentação social agrava os conflitos e causa retrocessos. Diante das dificuldades, impõe-se somar e não dividir para a superação das adversidades.


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