A humanidade padece de graves adoecimentos. Ao mesmo tempo, tem ao seu alcance o caminho que leva à cura: cultivar laços e fortalecer vínculos construídos a partir do amor, do gosto pela solidariedade. Distanciar-se desse caminho traz sérias consequências para as pessoas e prejuízos para a sociedade. A vida se torna menos saudável. Mesmo assim, observa-se gradativa desconsideração sobre a importância de se constituírem laços. Na ilusão de que as riquezas garantem o domínio sobre tudo o que existe, ganha mais centralidade a busca pelo acúmulo de bens. O resultado é o desequilíbrio, que só traz perdas – inclusive no campo econômico, com o aumento de custos para o funcionamento da sociedade, o comprometimento das produções e o crescente desperdício. Por isso, é tão importante a valorização dos laços fraternos.
Reconhecer-se como parte de um grupo maior, cultivar o sentimento de pertença é o ponto de partida.
A metáfora do corpo e dos membros, apreciada por Paulo Apóstolo, guarda a lição fundamental que deve ser verdadeiramente aprendida pela humanidade.
Preservar a verdade é exigência para relações autênticas, que fortaleçam a comunhão – explica o papa Francisco –, pois a mentira é sinal do egoísmo, da recusa de se tornar "parte" do "corpo", de ser servidor dos outros. Sem o compromisso com a verdade, perde-se o único caminho possível para reencontrar o sentido da própria existência. Por isso, quando se pensa nas muitas reformas necessárias e urgentes para toda a sociedade, deve-se privilegiar a solidariedade, buscar a comunhão, respeitar a alteridade. E para desempenhar bem essa tarefa, vale retomar importante referência humanística destacada pelo papa Francisco: à medida que um se reconhece membro do outro, no único corpo cuja cabeça é Cristo, cura-se do risco patológico de ver as outras pessoas como potenciais concorrentes, inimigos. Consegue-se superar o vício de enxergar no outro um inimigo.
É importante perceber as graves consequências que surgem a partir da competição desenfreada e do acirramento das polarizações.
A humanidade precisa, a partir do exemplo de Cristo, cultivar um olhar de inclusão, de empatia, capaz de lidar de modo distinto com a alteridade. Essa é a direção indicada pelo amor que vem de Deus, fonte a ser buscada cotidianamente para a vida em comunhão.
É preciso cultivar laços, recompor as relações a partir de qualificada competência humana e espiritual que leve a escolhas assertivas, transformadoras. Dessa maneira, torna-se forte o sentido de pertencimento – cada um se percebe como parte do "corpo" que é a humanidade. Exercita-se a capacidade de perdoar e de repartir, de ser justo e de ser bom, em todas as circunstâncias. A saída para este tempo de tantos e graves problemas é investir nos laços de humanidade..