É a universidade que forma os profissionais aptos a contribuir para o desenvolvimento do país num mundo globalizado em que só os melhores sobressaem
As medidas contra a “balbúrdia” que o ministro da Educação diz imperar nos câmpus das universidades federais remete a velha piada sempre lembrada quando, diante de um problema, não se ataca a causa, mas se encena uma solução. Trata-se da história do marido que, ao chegar em casa, surpreende a mulher nos braços de outro no sofá da sala. Cheio de razão, decreta do alto de sua autoridade: “Tirem o sofá da sala”.
É verdade que manifestações político-partidárias no espaço público das instituições de ensino superior muitas vezes ultrapassam o aceitável e, não raro, ignoram o mandamento número um que as rege: o respeito à liberdade e ao pluralismo. Trata-se de desafio que precisa ser enfrentado. Mas a arma, com certeza, não é o corte de recursos. Tampouco a desmoralização das casas do saber que respondem pela quase totalidade das pesquisas realizadas no país.
Levantamento da Clarivate Analytics, empresa especializada em análise de pesquisas acadêmicas e registro de patentes, apresentou dados que demonstram o que o senso comum conhece – as universidades públicas oferecem a melhor qualidade de ensino e detêm praticamente o monopólio da pesquisa e da divulgação do conhecimento. Não é por acaso que atraem os mais vistosos talentos e têm as vagas disputadas por centenas de candidatos de norte a sul do país.
Números levantados pela Clarivate Analytics comprovam a importância das instituições públicas para o avanço da ciência nacional. Nos últimos cinco anos, das 50 instituições brasileiras que sobressaíram na publicação de trabalhos científicos, 36 são universidades federais, sete estaduais e cinco são órgãos de pesquisa ligados ao governo federal.
Outro equívoco é a demonização dos cursos de sociologia e filosofia. Eles, como os demais cursos de humanas, não têm sido o objeto de desejo da maior parte dos estudantes. Mas, em vez de desqualificá-los, impõe-se valorizá-los. Além do magistério, profissionais dessas áreas contribuem substantivamente em áreas essenciais para a sociedade. É o caso de saúde, educação, segurança, mobilidade, emprego e demografia.
Ninguém contesta a urgência de a universidade brasileira galgar degraus mais altos, internacionalizar-se e dar saltos de qualidade. É ela que forma os profissionais aptos a contribuir para o desenvolvimento do país num mundo globalizado em que só os melhores sobressaem. A receita para cumprir a missão que lhe compete não passa pelo corte de recursos nem pela desvalorização do saber e da ciência.