No mundo ocidental e na Índia e Japão, onde vigem democracias e partidos políticos (nunca mais que cinco, significativos), após as eleições são formadas maiorias (que respaldam nas casas legislativas o governo) e minorias representativas da oposição ao governo, com os fitos de fiscalizar os governantes, em nome do povo que votou contra o eleito, ao tempo das eleições.
Dado o contexto acima, os partidos – pouco importa se presidencialista ou parlamentarista – construíram sua existência e permanência junto às sociedades, mediante um sistema de crenças e valores compartilhados. Só para exemplificar, nos EUA, temos republicanos e democratas (existem mais oito, sem expressão). Na Inglaterra, trabalhistas, conservadores e liberais. Na Alemanha, sociais-democratas, socialistas e democratas-cristãos (os principais).
No Brasil, deu-se algo singular. Os partidos não têm cara. Getulio Vargas (foi revolucionário em 1930, ditador de 37 a 45 e presidente eleito em 50, vindo a cometer suicídio durante o mandato). Seguiu-se-lhe Juscelino Kubistchek (o maior de todos os presidentes do Brasil). Na era getuliana, tínhamos quatro partidos significativos: o PTB (getulista), o PSD (juscelinista), a UDN (lacerdista, moralista, milicado) e os PRs (partidos republicanos regionais).
Com a Constituição de 1988 que reiniciou a democracia plena no Brasil, após os 21 anos de chumbo dos seguidos ditadores militares (Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Figueiredo, todos "eleitos" indiretamente no Parlamento), renovou-se a vida partidária. João Figueiredo, figura singular, tinha por lema "tornar o Brasil uma democracia". Após ele, com a Lei da Anistia e a restauração, miríades de partidos pouco representativos surgiram, a ponto de alguns "politicólogos" chamarem o sistema político brasileiro de "presidencialismo de coalizão" ou "presidencialismo de cooptação". Mas o que significa isso? Que o nosso Parlamento é uma espécie de acampamento político, perdidas as referências no "regime dos generais". A governabilidade seria assegurada pelo toma lá dá cá.
O que surgiu de significativo foi o pluripartidarismo exagerado, para acomodar as "disputas locais" em todo o Brasil. Além dos nanicos, o PMDB (o ex-MDB), o PSDB supostamente social-democrata, o PFL, o "velho" PTB e a "novidade", o PT, liderado por Lula, que perdeu três eleições antes de sagrar-se presidente em 2002. Governou até 2010 (dois mandatos).
Esse presidente tem uma concepção primária do governo democrático: "Executivo é uma coisa, Legislativo outra". Não é assim. O Executivo, no presidencialismo, governa, e o Legislativo faz e modifica leis e até a Constituição (emendas). Logo, o Executivo tem interesse em ter a "maioria" no Parlamento, daí a figura do líder da maioria, o que não lhe entra na cabeça, a repelir intimidade com o Parlamento porque acha que a relação é promíscua (toma lá dá cá). Não necessariamente isso é verdadeiro, embora ocorra. Pode ser diferente. Mas é óbvio que os partidos que apoiam o presidente e seu partido no Congresso têm o direito de participar do governo, com seus quadros solicitando obras, apoios, verbas e exercendo cargos.
Para evitar que os quadros burocráticos que tocam os governos venham a sofrer, a cada eleição, uma alteração excessiva, vamos seguir o que nos EUA e Europa (toda parlamentarista) já é passado: uma burocracia estável e escolas permanentes de administração voltadas para a máquina administrativa. Ademais, uma divisão equitativa entre cargos de recrutamento restrito (chefias que são exclusivas dos funcionários do quadro administrativo) e cargos de recrutamento amplo, quando pessoas de fora são chamadas pelo partido ou coalização partidária vencedora das eleições para exercer "cargos de confiança". Simples assim.
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