O presidente Bolsonaro perde, rapidamente, capital político, apesar de ações positivas. O fim do imposto sindical (obrigatório), por exemplo, deve ser voluntário e consentido. Para tanto, o sindicato tem de mostrar serviço e não viver de benesses privadas e governamentais. Além disso, seu governo já fez outras coisas boas, deve-se registrar. Mas o seu problema deriva de três fatores: pouco leu; é homem de parcas luzes; falta-lhe tato político (em Lula até sobrava, em que pese sua falta de cultura). É impulsivo e não para um segundo sequer, antes de abrir a boca. E quando abre, sobram frases polêmicas ou inconsistentes. Isso seria de somenos se não envolvesse um "americanismo" ingênuo e primário, e um viés antissocialista ultrapassado.
Rittner, Krüger e Carla Araújo (Valor, de 7/3/19), fazem uma análise correta do tema, a conferir: "A retórica anti-China do presidente Jair Bolsonaro travou o primeiro desembolso do fundo multibilionário criado pelos dois países para impulsionar a cooperação econômica bilateral. Lançado em 2015, o Fundo de Cooperação Brasil-China para Expansão da Capacidade Produtiva demorou quase três anos para ser estruturado e chegar à lista final de candidatos aos primeiros aportes. Essa lista tem sido mantida em sigilo, mas o Valor apurou que a linha de transmissão responsável pelo escoamento de energia da usina hidrelétrica de Belo Monte (PA) até o Rio de Janeiro estava praticamente definida como desembolso inaugural. Orçado em quase R$ 10 bilhões, o linhão vem sendo financiado pelo BNDES. A intenção era usar recursos do fundo para a compra de uma fatia acionária de até 40% do empreendimento, controlado pela State Grid. Na reta final das tratativas, declarações de Bolsonaro sobre os investimentos chineses no país, antes e durante a campanha, levaram Pequim a colocar um freio na liberação dos recursos. Antes da campanha, Bolsonaro irritou os chineses ao viajar para Taiwan, considerada por Pequim como uma província rebelde.
Os chineses, agora, preferem aguardar para saber como ficarão as relações bilaterais. Caberá ao vice-presidente, Hamilton Mourão, uma tentativa de deixar qualquer constrangimento de lado e aprofundar as relações bilaterais. Ele está propondo uma data, entre maio e junho, para reativar a Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação (Cosban).
O fato mostra um presidente agitado (como foi no Exército e no Congresso), direitista ardente e fora de moda, sendo "controlado" por um grupo seleto de militares instruídos e vividos, com passagens pelo Estado-Maior e a Escola Superior de Guerra, monitorando, com muito tato, as suas barretadas e as de seus filhos, igualmente impulsivos. Sem profundidade política, a sua "visão do mundo" é digna dos mais irracíveis membros do Partido Republicano dos EUA. A Base de Alcântara acaba de ser cedida aos americanos e sem nenhuma contrapartida que valha a pena...
Em vez de ligar-se aos polos de poder existentes no mundo e tirar vantagens de todos, o presidente e o seu "Olavão de Carvalho" entendem que o Brasil deve ser "de direita" (na sua pior acepção). O nosso chanceler beira a insanidade mental dos padres radicais da Opus Dei, com seus valores e sua "civilização judaico-cristã", como se não fôssemos uma nação partícipe dessa tradição. Esse Araújo é um pândego!
A geopolítica, o pragmatismo, a capacidade de dialogar, convencer e ceder, sendo o caso, são deveres do presidente.
O jogo se inicia agora, com o Congresso Nacional coparticipando da governabilidade. Toda a habilidade política com os altos interesses da nação está em evidência. Vamos ver como o presidente se comportará, pois muita coisa, a começar pela mãe de todas as reformas, a previdenciária, está nas mãos do Congresso. E, até hoje, ninguém sabe e ninguém viu "a base" do governo na Casa. Investidores e empresários estão parados (e o país também) para saber a que veio o novo governo do Brasil.
lácias e bobagens.".