Nos negócios, nos relacionamentos e na vida, o mundo nos desafia com incertezas, volatilidade, confusão, complexidade, caos, ambiguidades e muito mais. Diante dos desafios, as pessoas, em geral, e de modo particular os líderes, recebem recomendações de todo tipo – ser mais focado, desenvolver resiliência, ter visão sistêmica, dialogar mais com as diferenças, criar soluções envolvendo as pessoas, ser mais empático, desenvolver paciência e tolerância.
A lista não tem fim, porque são inúmeras as dificuldades que a pessoa, em sua forma única de ver, reagir e interagir encontra em diferentes momentos e circunstâncias de sua vida, em sua ânsia por sentir-se mais cômodo, contente, seguro, ou por ser capaz de agir e atuar com maior efetividade e alcançar sucesso, de se relacionar melhor, ou, ainda, de ocupar com excelência o lugar e o papel que lhe cabem no contexto em que se encontra.
As dificuldades das pessoas, individualmente consideradas, se ampliam e adquirem ainda maior complexidade nas coletividades – equipes de trabalho, círculos de relacionamentos etc. Entre tantas razões, uma delas é de que se uma pessoa tem um grau de autonomia e "comando central" (se me levanto da cadeira, levanto-me inteiro, nenhuma parte de mim deixa de vir junto), as coletividades não são assim, de modo que é virtualmente impossível encontrar posições verdadeiramente unânimes onde quer que haja duas ou mais pessoas (e já o disse Nelson Rodrigues: "Toda unanimidade é burra"). Assim, construir equipes que olhem na mesma direção e vão juntas na ação não é tarefa para amadores.
Sempre que enfrentam desafios impostos pelo ambiente, as organizações privadas e públicas, e também as pessoas, se veem diante de um difícil dilema: como ser algo novo, se só o que sei (sabemos) é ser o que sou (somos)? Como pensar de modo diferente, se só o que sabemos é pensar como pensamos? Como agir de outras maneiras, se só o que sabemos é agir como agimos? Como construir equipes, sistemas, planos, estratégias novas, se só o que sabemos são o que temos construído até agora?
Cada desafio, cada dificuldade, cada dor decorre de que essencialmente estamos identificados com o problema do qual estamos tentando escapar. Somos o problema. E pior: nos orgulhamos dele... Não? Basta olhar para a forma como cada pessoa se gaba de ser como é, embora suas características, frequentemente, imponham dificuldades para si e para os outros. E o mesmo acontece com as coletividades.
Construir novos modos de ver as coisas, hábitos novos, equipes novas, processos e estratégicas novas, não é tarefa simples. Requer ver com coragem o modo atual e desfazer a identificação com ele, gradativamente. Mas sem o negar. Reconhecendo o que ele tem de bom, como nos serviu até agora. E reconhecendo de que modos ele nos impediu de ir além. Qualquer coisa diferente disso vai gerar sombras, partes negadas, despossuídas que mais cedo ou mais tarde vão cobrar a conta de sua negação.
E a condução desse processo de mudança – necessário e doloroso – requer daquele que auxilia uma capacidade de cuidado e compaixão, de senso prático e flexibilidade, de escuta e empatia, de reconhecimento das capacidades daquele que busca a mudança como matéria-prima primordial da construção da mudança que é somente dele.
Desconfie de gurus.
Coaching, pra valer, é sobre construir para cada pessoa, e para cada coletividade, o que é importante para ela – não para o suposto guru. E isso requer rigor, cuidado e arte. O protagonista principal, não duvide, só pode ser você que busca uma transformação de algo em você que é importante para você, para as coletividades das quais participa ou para o mundo. O coach (profissional de coaching) é apenas um instrumento a seu serviço.
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