A política brasileira está sendo sacudida por uma mudança cultural que, lá fora e aqui, está transformando e subvertendo antigos modelos e estruturas de poder. Partidos e políticos tradicionais vão sendo substituídos por outsiders. Multiplicam-se as surpresas. O fenômeno revela o esgotamento das ideologias dominantes e uma clara mudança do pêndulo da história. Um mundo, sem dúvida mais conservador, reage ao domínio do politicamente correto. As redes sociais, por óbvio, tiveram um papel decisivo no redesenho da política e no resgate da agenda moral. Elas estão no centro da virada.
Segundo lideranças da política de sempre, a eleição de Bolsonaro só se explica pela presença de um forte sentimento antipetista. A interpretação é verdadeira.
As redes sociais tiveram papel decisivo. Bolsonaro falou diretamente com o eleitorado. Rompeu, como nunca antes se tinha visto, a intermediação das empresas de comunicação. Agora, sentado na cadeira presidencial, continua na mesma toada. A perplexidade é grande. Alguns vislumbram nas idas e vindas do presidente da República, nas suas declarações polêmicas e provocativas, no seu modo aparentemente atordoado de dialogar com o Congresso, uma evidência de seu despreparo. No entanto, Bolsonaro está nas manchetes, nas páginas de política e nas discussões midiáticas. É estrela.
Será que tudo isso, aparentemente desconexo e incompreensível, faz parte de um jogo estudado, manifestação de uma estratégia pensada e implementada? O que parece bagunça e impulsividade, algo que incomoda e irrita, não estará no cerne de um novo estilo de fazer política? É cedo para chegar a uma conclusão. Mas é preciso refletir. As polêmicas públicas de Bolsonaro com Rodrigo Maia, vistas como manifestação de inabilidade e despreparo, acabaram produzindo um saldo interessante: o estranhamento terminou em abraços, o receio de que a reforma da Previdência fosse para o brejo uniu divergências, o empresariado saiu da zona de conforto e foi à luta. No fundo, o jogo avançou.
Não estaremos, amigo leitor, diante de um governo que acredita na polêmica e no confronto como forma de superação de situações cristalizadas pela força da ideologia? Não sei. Estou, a cada dia que passa, evitando pendurar etiquetas simplistas numa realidade que parece complexa. Será que os generais do núcleo duro do governo, reconhecidamente sérios e competentes, entrariam numa roubada? Tenho procurado pensar e refletir. Com esforço de compreensão da realidade, com cabeça aberta e sem preconceitos.
A imprensa de qualidade, séria e independente, é essencial para o futuro da democracia. E tudo isso, tudo mesmo, depende da nossa coragem e humildade para rever atitudes e entender novos contextos. E para isso é preciso ponderar e refletir, que são a proposta deste artigo.
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