O desemprego subiu. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgados na sexta-feira, mostram que a taxa avançou para 12,4% no trimestre encerrado em fevereiro, acima dos 11,6% registrados no intervalo até novembro. Não é apenas um número. São 795 mil pessoas a mais procurando emprego no Brasil.
Embora a falta do emprego seja situação preocupante, os números gerais da pesquisa indicam cidadãos que ainda carregam a esperança de conseguir uma vaga no mercado de trabalho. Só busca trabalho quem acredita que possa encontrá-lo. É dissecando a pesquisa, no entanto, que a realidade endurece de fato, no desespero carregado pelo desalento. Para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desalentados são aquelas pessoas que simplesmente desistiram de procurar trabalho. São brasileiros que perderam a esperança, um recorde de 4,9 milhões de pessoas, verdadeiro exército da melancolia.
Ainda mais devastadores são dados que apontam que, desde 2014, o número de desalentados triplicou entre jovens até 24 anos. O motivo é claro. Para essa população, que cuja idade costuma oferecer plena disposição para o trabalho, o desemprego atinge os 27,2%, o que significa dizer que, a cada quatro jovens que buscam uma vaga no mercado, pelo menos um encontra todas as portas fechadas.
A taxa de subutilização medida pela Pnad Contínua expõe outro espantoso recorde. Quase 28 milhões de pessoas poderiam estar trabalhando mais horas. O número é o maior da série histórica do IBGE e representa 24,6% dos empregados do país.
Desânimo, esmorecimento, consternação. O desemprego preocupa especialistas, mas o desalento recorde é a sirene que toca mais alto nesse alerta. Em um país que precisa retomar com urgência o crescimento para se reerguer de uma crise longa e dramática, combater o abatimento da força de trabalho passa a ser tão importante quanto gerar novas vagas. A prometida guinada ainda não deu sinais e as frustrações repetidas afastam os brasileiros do Brasil, condenando-os a uma espécie de subnação onde não é permitido sonhar.
É preciso combater a desesperança e, também com urgência, acelerar o passo rumo ao crescimento, com medidas que, ainda que paliativas, facilitem a geração de emprego. Pelo Twitter, no sábado, o presidente Jair Bolsonaro adiantou que o governo estuda reduzir impostos para empresas, como meio de aumentar a competitividade nos mercados interno e externo e, obviamente, criar novos postos de trabalho. Que o tuíte se concretize em medidas e que elas venham com a urgência de quem precisa aplacar a angústia de uma nação estagnada. Só o emprego é capaz de reanimar o consumo, impulsionar a renda e fazer florescer novamente a esperança no país do desalento.