Depois da brutal tragédia causada pelo rompimento da barragem do Córrego do Feijão, que degradou o meio ambiente, destruiu equipamentos coletivos e privados e provocou a morte de centenas de pessoas, devastando suas famílias e a comunidade do município de Brumadinho, dois imperativos se impõem. O primeiro é uma imediata e abrangente ação de reparação pela Vale, proprietária da mina e responsável pelo desastre. O segundo é a adoção de iniciativas econômicas e sociais amplas, visando à geração de trabalho e renda e o fortalecimento da capacidade de execução de políticas públicas focadas na região de Brumadinho e seu entorno. Tais iniciativas podem ser organizadas a partir do Museu de Arte Contemporânea e Jardim Botânico Inhotim.
Como se sabe, o Inhotim é composto por extenso e diversificado conjunto de obras de arte contemporânea e está inserido em exuberante jardim botânico de 140 hectares, composto por dois biomas (mata atlântica e cerrado), além de uma área contígua de preservação ambiental superior a 200 hectares. Combina, portanto, beleza artística e botânica em sítio privilegiado para pesquisa ambiental. Assim, Inhotim se habilita como um empreendimento capaz de contribuir, efetivamente, para a reversão do quadro atual de dificuldades, proporcionando a integração do circuito histórico cultural da região central de Minas Gerais e, ao mesmo tempo, a promoção do desenvolvimento daquela região, com amplos encadeamentos para o conjunto do estado.
De fato, além de sua reconhecida projeção nacional e internacional, Inhotim tem condições inigualáveis para se tornar um centro de conferências e convenções de dimensão mundial, e de elo integrador de um circuito histórico e cultural, configurando como verdadeiro hub apto a estimular o potencial turístico de Minas Gerais, ao possibilitar a combinação de eventos de lazer e atividades acadêmicas, públicas e empresariais em ambiente de beleza e contemplação – basta lembrar que, em algumas de suas obras, os artistas resgataram traços do Barroco e do Modernismo, a exemplo dos azulejos da obra de Adriana Varejão e da galeria de Walesca Soares.
Tais condições tão promissoras desse projeto de desenvolvimento socioeconômico baseado no Inhotim se deve ao fato de que, além deste importante equipamento, a região central de Minas Gerais tem outros três grandes acervos histórico-culturais, cujo potencial turístico e de pesquisa é pouco explorado. O primeiro, pelo rico acervo paleontológico e arqueológico, com destaque para a região de Lagoa Santa, a 30 quilômetros de Belo Horizonte. Pesquisado pelo naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, na década de 1840, onde foi, posteriormente, descoberto o crânio de "Luzia".
O segundo acervo refere-se à arte e cultura barroca contidas na rede de cidades coloniais construídas por ocasião das minerações de ouro e diamante (Ouro Preto, Mariana, São João del-Rei, Tiradentes, Congonhas, Sabará e Diamantina). Além de sua beleza arquitetônica, e de seu papel na formação cultural de Minas e do Brasil, essas cidades têm um acervo de obras artísticas, com destaque para as esculturas de Aleijadinho, as pinturas do Mestre Athayde, e do pouco explorado acervo musical e literário.
O terceiro acervo é constituído pelas obras do modernismo tardio de Belo Horizonte, com destaque na produção literária mineira, como Carlos Drummond de Andrade, Pedro Nava e Guimarães Rosa, entre outros. Na década de 1940, o movimento foi renovado pelo jovem prefeito Juscelino Kubitschek, com as obras de Oscar Niemeyer, Lucio Costa, Burle Marx e Cândido Portinari à época da construção do conjunto arquitetônico da Pampulha (Museu de Arte, Casa do Baile, Igreja São Francisco), ao lado de um lago artificial e cercado por belos jardins. Algumas delas resgatando os arcos, os azulejos e os murais do Barroco. Junto a esses empreendimentos, veio também o artista plástico Guignard, que criou a escola de artes e apoiou o desenvolvimento da arte visual em Belo Horizonte. Na Pampulha, encontram-se também o câmpus da UFMG e o Mineirão.
A integração desses quatro acervos tem extraordinário potencial para se criar em Minas Gerais um ambiente turístico e de pesquisas e um centro de convenções nacional e internacional.
Acreditamos que a transformação do Inhotim em base para a integração do circuito histórico e cultural da Região Central de Minas e de centro de visitação turística, convenções e pesquisa tem grande potencial para a atração de atividades e pessoas do país e do exterior e estímulo ao turismo.