É inadiável combater as barbáries que desfiguram o Brasil. Esse é o caminho para corrigir os descompassos políticos, sociais e familiares que têm produzido inseguranças e clara perda de rumos. Essa deve ser a prioridade de todos os cidadãos e instituições, pois permanecer indiferente a esses cenários traz grave consequência: a assimilação passiva de dinâmicas perversas, que fazem o cidadão se acostumar com situações horrendas, naturalizando-as, de forma venenosa. Numa perigosa dinâmica, passa-se a repetir comportamentos abomináveis, compulsivamente, perpetuando-os. Agir com rigor no combate a situações desoladoras é, assim, um necessário cuidado para não se deixar contaminar pelo terrível processo de delinquência, que devasta a sociedade.
Superar a indiferença deve ser o ponto de partida para enfrentar este “vale-tudo” que se vive na atualidade, em que se age segundo os próprios interesses, desconsiderando nobres valores. Sacrificam-se vidas, subjetivismos são impostos como hegemonia. Patrimônios inegociáveis são trocados pelo dinheiro. O desrespeito ao bem comum se torna regra, com apropriações indébitas do erário, arquitetadas por diabólicos esquemas de corrupção e favorecimentos.
Sem esse investimento não adianta mudar a composição de instituições políticas, pois a governabilidade estará sempre comprometida. Faltará a lucidez imprescindível aos entendimentos, fundamentais para conduzir o Brasil rumo a uma realidade promissora. Não basta apenas investir em segurança pública ou defender propostas inconsistentes, a exemplo da concessão do direito legal ao porte de arma. O fundamental para a sociedade brasileira é que haja profunda revolução cultural no sentido de recuperar valores e princípios que sustentam o altruísmo, a solidariedade e o compromisso com o bem comum.
Todos têm responsabilidade na construção de rumos novos, pois a tarefa é grande, requer empenho diário e tempo – a transformação almejada demandará décadas para se efetivar. Mas sem buscar essa profunda mudança, continuarão a se multiplicar situações de barbárie, a exemplo dos feminicídios e do extermínio de índios, abominação motivada por interesses gananciosos, além das muitas outras tragédias diárias.
As reações frente a esse cenário são urgentes e demandam amplo envolvimento que vão além de ideologias partidárias, de interesses particulares, para tornarem-se força efetiva de mudança. Mas, o que fazer? Por onde começar? O ponto de partida é tomar consciência da dinâmica que envolve o mundo na contemporaneidade. Convive-se com uma avalanche de informações irrelevantes e, ao mesmo tempo, falta lucidez às pessoas. Consequentemente, gastam-se energias e investimentos com processos que contam pouco e não deveriam ser prioridade.
A avalanche de informações muitas vezes gera confusão e acaba causando o que pode ser chamado de ditadura da opinião própria. Esse fenômeno, que se generaliza, é caracterizado por pessoas e grupos que emitem juízos precipitadamente, a partir de interpretações equivocadas, perpetuando o caos e alimentando a barbárie. Para reverter esse quadro, deve-se cultivar a humildade: sabe-se menos do que se pensa que sabe.
Não se pode mais impor perspectivas sob o efeito de um saber ilusório, em um mundo que se torna cada vez mais complexo.
A força do diálogo e o inegociável respeito às pessoas são fundamentais para enfrentar as barbáries. Qualificar-se para dialogar e interagir, percebendo os próprios limites, é conduta indispensável e coerente com a moralidade, a espiritualidade e autênticas relações fraternas.
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