A era Bolsonaro começou ontem com um apelo pela união do país. Num discurso curto, mas incisivo, ao tomar posse no Congresso, disse que será o presidente com a missão de reunificar o país, construindo uma sociedade sem discriminação. Ressaltou que os Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – precisam se unir em benefício do país. Nada mais natural diante da divisão que se viu no Brasil durante as eleições, cujas feridas continuam expostas.
É preciso, porém, que os apelos para esse processo de conciliação saim do discurso e se tornem prática. Bolsonaro tem a exata noção do tamanho dos desafios que terá pela frente, mas ainda está vestindo a fantasia de candidato. Tanto que, diante do público que o aplaudia euforicamente, pegou a bandeira do Brasil e afirmou que o símbolo do país jamais seria vermelho. Uma declaração que em nada combina com alguém que prega a paz.
Bolsonaro sentirá, a partir de agora, o peso da caneta Bic com que assinou o termo de posse. Na nova fase que começou ontem, como ele mesmo destacou, as responsabilidades com quase 210 milhões de brasileiros são imensas.
Foi extremamente importante o presidente, em seu primeiro discurso, chamar o Congresso à sua responsabilidade. A maior parte das medidas imediatas que o país precisa adotar para voltar aos eixos e resgatar o crescimento econômico passa pelos plenários da Câmara e do Senado. Sem a harmonia do Palácio do Planalto com o Legislativo, toda a agenda de reformas – a mais polêmica delas, a da Previdência – será bloqueada, empurrando o Brasil para o limbo.
Não é hora de miudezas. O Brasil necessita caminhar a passos largos. Sem a recuperação econômica, depois de quatro anos de tormenta, 12,2 milhões de desempregados, corrupção desenfreada, violência destruindo famílias, dificilmente Bolsonaro conseguirá manter o apoio popular que o levou a ocupar o cargo mais alto da República. Felizmente, o presidente se cercou de um grupo técnico competente, com uma visão clara dos problemas que devem ser enfrentados.
O que não pode é a política e a ideologia atropelarem uma agenda que vem sendo adiada há tempos por governos que optaram pelo caminho mais fácil, o do populismo.
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