Carteira assinada, salário, comida na mesa, educação, saúde e dignidade. Quando 2018 chegar ao fim, será esse o desejo de milhões de brasileiros afetados pela maior recessão da história do país e suas consequências. Ao mesmo tempo, outros tantos milhões chegarão ao dia 31 de dezembro acalentando a esperança de se tornar milionários. A Mega da Virada, cujo prêmio deve chegar a R$ 280 milhões, mexe com o imaginário de uma nação castigada pela retração do poder de compra, pelo avanço do número de miseráveis e pela desesperança do fechamento de vagas no mercado.
Enquanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontava 12,2 milhões de pessoas à procura de emprego no Brasil, um estudo da Escola de Matemática Aplicada da Fundação Getulio Vargas (FGV EMAp) revelou que o prêmio estimado da Mega-Sena da Virada, se pago em notas de R$ 50, pesaria algo em torno de 4 toneladas. O fardo dos sonhos do brasileiro médio.
Não bastasse o fantasma do desemprego, a crise nos estados – que causa atraso no pagamento do funcionalismo – e a aproximação de um 2019 de incertezas, as projeções divulgadas pelo relatório Focus, do Banco Central, na última segunda-feira, apontam que o PIB de 2019 crescerá cerca de 2,5%. O resultado é melhor que o de 2018, mas ainda tímido para salvar o principal motor da economia: o emprego. As projeções mostram que se o crescimento seguir lento, repetindo a taxa esperada para 2019, levará nada menos que 10 anos para que o desemprego caminhe dos atuais 11,7% para 6,8% registrados em 2014.
A lentidão da retomada reforça a redenção da Mega da Virada, já que, para milhares de brasileiros, o caminho para uma vida digna e plena parece muito mais longo que os 630 quilômetros do prêmio da loteria enfileirado em notas de R$ 50 – ainda segundo o estudo da FGV. Lado a lado, as cédulas cobririam 11 campos de futebol, dizem os matemáticos do EMAp.
Com o salário mínimo em R$ 1.006 a partir de 1º de janeiro, é natural que um prêmio 278 mil vezes maior faça crescer as filas das lotéricas e povoe os sonhos de quem ainda não sabe como vai arcar com as despesas de janeiro.
As chances, dizem os especialistas, são menores que as de sofrer um ataque de tubarão ou de ser vítima de um acidente aéreo, mas a alegria da esperança viva até a última noite de um ano difícil como 2018 anima o apostador e serve de alento ao sonhador. Aos desiludidos que não acertarem os números, sobram a festa da noite de segunda, a folga da terça-feira e um ano inteiro de novas lutas. E de novas esperanças.
.