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Homenagem a um antigo pós-moderno


postado em 11/12/2018 05:10

"O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço." A fórmula lapidar de Machado de Assis é aplicável com a máxima justiça a um novo mestre cuja obra se destaca no horizonte da nossa literatura: Jacyntho Lins Brandão. Helenista reconhecido internacionalmente, a relevância da sua obra vem receber o merecido destaque com a eleição à Academia Mineira de Letras, em cerimônia que acontece hoje, às 20h, onde assume a cadeira 25 (antes ocupada pelo ex-governador de Minas Gerais Francelino Pereira dos Santos).

Professor titular da Faculdade de Letras (Fale) da UFMG desde 1977, onde leciona língua e literatura grega, além de pesquisador, tradutor, crítico literário, romancista e dramaturgo, Jacyntho possui uma carreira que alia a prática docente à atividade literária, sempre atento à necessidade de assumir responsabilidades pessoais: diretor da Fale por duas vezes (1990-1994 e 2006-2010) e vice-reitor da UFMG (1994-1998), atuou ainda como professor visitante em várias instituições estrangeiras.

A maior parte dos seus livros transita pelas áreas de teoria, crítica e história da literatura, ensino de grego antigo, filosofia e tradução. Defensor da tese de que as origens da ficção estariam na própria Antiguidade, Jacyntho escreveu obras que se tornaram referências incontornáveis, como Antiga Musa: arqueologia da ficção (2 ed., Relicário, 2015) e A invenção do romance (Ed. UnB, 2005). Além disso, trabalha, incansavelmente, pela divulgação entre nós da obra de Luciano de Samósata, um importante escritor da Antiguidade tardia, cuja influência se estende sobre nomes tão relevantes quanto os de Rabelais, Voltaire, Dostoiévski e até Machado de Assis. O seu principal estudo sobre esse autor "pós-antigo" é ainda A poética do hipocentauro (Ed. UFMG, 2001), embora títulos mais recentes complementem a sua bibliografia sobre o assunto: Como se deve escrever a história (Tessitura, 2009) e Biografia literária (Ed. UFMG, 2015) oferecem traduções de importantes textos de Luciano, constituindo uma fonte inestimável para quem se interessa por um diálogo que - segundo Mikhail Bakhtin – atravessa os séculos sob o nome de "tradição luciânica".

Como não poderia deixar de ser, o próprio Jacyntho faz parte de tal tradição, posto que as suas obras ficcionais abusam de elementos luciânicos e revelam que o riso é coisa para ser levada muito a sério. Seja no romance O fosso de Babel (Nova Fronteira, 1997), seja na peça Que venha a Senhora Dona (Tessitura, 2007), um complexo jogo intertextual se vale de inúmeras estratégias narrativas para criar uma trama em que o humor coloca em xeque as certezas do leitor e o leva a uma profunda reflexão crítica.

Em plena era digital, Jacyntho começa a se dedicar também ao estudo de civilizações antigas do Médio Oriente e tem decifrado os segredos inscritos em tabuinhas de argila de povos tão antigos quanto os acádios, os assírios e os babilônicos. Um primeiro fruto dessas pesquisas é a sua tradução comentada da epopeia de Gilgámesh (composta por Sin-léqi-unnínni): primeira versão em língua portuguesa traduzida diretamente do acádio, o livro – indicado ao Prêmio Jabuti na categoria tradução em 2018 – saiu com o título Ele que o abismo viu (Ed. Autêntica, 2017).

Se a sua eleição à Academia Mineira de Letras, hoje, vem coincidir com a aposentadoria na carreira docente – em momento de profundas dúvidas quanto ao futuro da educação e dos educadores no Brasil –, permanece a certeza de que, tratando de "assuntos remotos no tempo e no espaço", Jacyntho se mostrará sempre "homem do seu tempo e do seu país", como Luciano e o próprio Machado já haviam se mostrado antes dele.

 


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