É auspicioso ouvir do ministro indicado para o Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, que a condução de sua pasta será técnica, não ideológica. É importante, porém, entender o que o político, que foi derrotado na disputa por uma vaga de deputado federal por São Paulo, chama de visão ideológica. A defesa ferrenha que especialistas fazem da preservação da Terra nada tem a ver com ideologia nem com romantismo de bicho-grilo. É coisa séria.
Cuidar do meio ambiente é garantir a vida do homem na Terra, e isso já foi evidenciado pela ciência, não em um, 10 ou 100 artigos publicados nas mais renomadas revistas especializadas, como Nature e Science. São milhares, literalmente, de trabalhos. O mais robusto, que compila informações científicas de qualidade e, a partir delas, faz um detalhado diagnóstico dos custos do aquecimento global para o planeta, é o relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, um grupo de estudos da ONU composto por cientistas renomadíssimos. Eles têm feito repetidos alertas sobre os riscos de não se limitar a 1,5ºC o aumento da temperatura até 2050, tendo como base os níveis pré-industriais. O aquecimento global, por sinal, é visto como tema de segunda classe pelo futuro ministro.
É verdade que, ao longo da história de 4,5 bilhões de anos, a Terra passou por ciclos de aquecimento e resfriamento.
O desmatamento desenfreado contribui muito para isso. Ao mesmo tempo em que lançam oxigênio para a atmosfera, as árvores têm um papel importantíssimo de, por meio da fotossíntese, estocar carbono no subsolo. Derrubar florestas significa permitir que todo esse CO2 armazenado seja lançado na atmosfera. Quanto a isso, não se tem o que discutir: é uma fórmula matemática. Renegar as mudanças climáticas e os efeitos nefastos do desmatamento equivale a duvidar de Darwin.
Outro ponto importante: os mercados europeus estão de olho na certificação ambiental dos produtos que importam. Se o Brasil insistir em retroceder e deixar de investir em opções sustentáveis dos produtos agropecuários, vai perder feio. Meio ambiente e economia estão cada vez mais entrelaçados. Não à toa, o Prêmio Nobel de Economia deste ano foi para William Nordhaus e Paul Romer, cujos estudos evidenciam os impactos econômicos das mudanças climáticas e apontam para a necessidade do crescimento sustentável. Ir na direção contrária disso tudo será condenar o país ao suicídio. Certamente, não é isso que Salles pretende.
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