A palavra do ano 2018 do Dicionário Oxford foi tóxico. O vocábulo aparece em duas acepções. Uma, em sentido denotativo: entorpecente (droga). A outra, na acepção conotativa: o poder de deteriorar. Usada como adjetivo, transmite ao nome a ideia de apodrecimento que se aprofunda com o passar do tempo. É o caso de matrimônio tóxico, relação tóxica, amizade tóxica.
Corrupção não aparece no rol de exemplos apresentado na obra. Explica-se: a publicação é inglesa e, na terra da rainha, o mal está longe de ganhar a dimensão que exibe no Brasil. Dado da Organização das Nações Unidas (ONU) informa que o país perde, por ano, cerca de R$ 200 bilhões com esquemas de desvio do dinheiro público.
A prática, de tão rotineira, foi naturalizada no país. Era como o suceder dos dias e das noites, a mudança das estações do ano, a troca das fases da Lua. O slogan “rouba, mas faz” perdeu a carga negativa e passou a ser usado como elogio a político que, embora avance com apetite no erário, cumpre o papel para o qual foi eleito. Em bom português: roubar seria fatalidade contra a qual não há como lutar. Conviver com ela era a receita.
Falso. Com a Operação Lava-Jato, a novela começou a mudar o enredo. Pela primeira vez na história, não só preto e pobre conheciam o rigor da lei.
Na quinta, o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, acusado de herdar o esquema de corrupção que lhe teria rendido R$ 40 milhões quando era vice de Sérgio Cabral, saiu do Palácio das Laranjeiras no camburão da Polícia Federal. Segundo o Ministério Público, o montante da propina daria para pagar vencimentos de 22 mil servidores. Ao mesmo tempo em que Pezão prestava depoimentos, o Supremo Tribunal Federal julgava o processo que questionava a legitimidade do indulto a presos concedido pelo presidente Temer no ano passado.
Um pedido de vista do ministro Luiz Fux impediu que corruptos de carteirinha ganhassem a liberdade antes de cumprir a pena. Foi decisão importante. Impõe-se deixar claro que o crime não compensa.
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