A Operação Capitu, desdobramento da Lava-Jato, mostrou, mais uma vez, que a corrupção é endêmica na estrutura do Estado brasileiro. Na manhã de ontem, policiais prenderam o empresário Joesley Batista, dono da J&F/JBS, o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade (MDB), e o ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PP-MT), reeleito deputado federal nas eleições deste ano. Além deles, sete pessoas estão sendo investigadas por pagamento de propina para um grupo que agia na Câmara dos Deputados e no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) entre 2014 e 2105 – governo Dilma Rousseff.
Pelo menos R$ 7 milhões foram distribuídos entre funcionários e políticos em troca de decretos que permitiriam ao grupo ter o monopólio na exportação de carcaças e outros produtos de origem animal, em detrimento de empresas menores que atuam no mercado de proteína animal. Com Joesley, foram presos os ex-executivos do grupo JBS Ricardo Saud e Demilton de Castro. Beneficiados pelo instituto da colaboração premiada, eles perderam credibilidade quando a Polícia Federal constatou que não conseguiram fornecer os elementos necessários para comprovar as denúncias e, ainda, estavam tentando obstruir as investigações, o que prejudicava a instrução criminal.
As evidências deram o nome à operação: Capitu é personagem dissimulada da obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. O marido desconfiava de que ela o teria traído com o melhor amigo. Na trama real, personagem da quadrilha sentiu-se traído na distribuição de propina, razão pela qual denunciou o fato. Por meio de redes de supermercados, cujos nomes a Polícia Federal ainda não revelou, os envolvidos montaram esquema para lavagem de dinheiro, que era transportado em malas e até em caixas de sabão.
Esquemas para compra de normas ou para criação de marcos legais não surpreendem. As muitas fases da Lava-Jato têm mostrado que legisladores e detentores de cargos de decisão nos governos não recusam favores, sobretudo propina para beneficiar esse ou aquele grupo econômico, pouco importando o prejuízo que as mudanças possam causar à população. A falta de compromisso com o país é notória.
Mudar esse roteiro é um dos grandes desafios do futuro governo, que tem evitado a indicação de partidos políticos para a formação do ministério. O trabalho diligente da equipe da Lava-Jato deve persistir como um dos instrumentos para erradicar a corrupção que permeia o setor público. Dificilmente, será possível calcular os prejuízos que tais crimes causam à sociedade. É evidente que a complexa burocracia do Estado está esgarçada, o que facilita a evasão criminosa do dinheiro do contribuinte. Não basta punir os infratores com o rigor das leis.
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