Após a queda do totalitarismo no século 20, a banalização da democracia como o "pior regime, exceto todos os outros", paradoxalmente parece ter aberto o caminho para uma crítica surda. Além da questão da legitimidade do princípio representativo, a democracia deve enfrentar a suspeita de uma instrumentalização pelos poderes do dinheiro, ou o julgamento da incompetência do consumidor.
Segundo a filósofa Myriam Revault d'Allonnes, ao se concentrar em certos aspectos do funcionamento de nossas democracias, deixamos de lado uma dimensão essencial: a experiência democrática. Mas, como o indivíduo percebe e experimenta sua condição de cidadão e sua relação com a democracia? Essa reflexão pode mostrar que a condição democrática do homem moderno é necessariamente ilusória. Porque a democracia rompe com certezas e poderes autoritários (ou totalitário) para entrar na lógica de negociação indeterminada. Porém, deixa espaço para a expressão e confronto de diferentes interesses, valores, aspirações que passam através do corpo social. Em outras palavras, o edifício democrático é intrinsecamente incompleto e imperfeito.
Em uma época marcada pela complexidade do mundo e da aceleração dos acontecimentos, essas expectativas irreverentes, entre outras razões, podem instalar uma sensação de crise generalizada e permanente. Se a democracia não pode erradicar nossos maiores medos – a incerteza irredutível do futuro e a violência do conflito – é um princípio formidável para lidar com eles.
Mas, por que não fazemos do futuro um potencial, uma esperança, deixando o campo livre para a ação? Não precisamos saber aonde a história vai para pensar em uma ação histórica sensata, porque vemos que nada nos permite dominar o futuro de maneira absoluta. Nesse contexto, a democracia pode ser definida como uma dinâmica que busca institucionalizar a incerteza.
Por fim, vale lembrar que uma democracia que funcione bem é a forma de governo que oferece maior liberdade, segurança, oportunidade e padrão de vida. Em uma democracia, você pode praticar a religião que melhor se adapte às suas aspirações espirituais e escolher livremente seu marido ou esposa e sua educação. Você pode ouvir a música que gosta, assistir aos filmes e ler os livros que quiser. Você pode se mover livremente sem a necessidade de pedir permissão. Você pode escolher completamente as roupas que você quer usar. Se você é uma minoria, você está protegido contra possíveis ataques, e você tem exatamente os mesmos direitos e oportunidades de entrar na política e influenciar como qualquer outro cidadão. Por isso que a democracia é importante. O simples fato de ser humano é uma razão em si mesmo para merecer viver em uma democracia funcional.
A democracia pode ser definida como uma dinâmica que busca institucionalizar a incerteza