Jornal Estado de Minas

ReformAção

Casal viaja de motorhome pelo país e reforma abrigos para crianças carentes

O projeto Arquitetando o Mundo, criado pelo casal Ariadne Pereira e Valter Strunk, percorre o Brasil reformando espaços comuns como escolas, abrigos e associações comunitárias. Além de São Paulo, onde o casal se conheceu, já foram feitas intervenções em seis estados. Com outras seis na meta, o projeto conta com financiamento coletivo para continuar na estrada.





 

O Arquitetando o Mundo nasceu há 5 anos, quando Ariadne, psicóloga, e o mineiro Valter, arquiteto, se conheceram. Ela trabalhava em um equipamento da Assistência Social da cidade de São Paulo, atendendo crianças e adolescentes vítimas de violência. A intervenção de estreia foi realizada um mês depois, quando reformaram a sala de televisão de um abrigo da Zona Norte da capital paulista, com a ajuda de amigos.

 

Em 2021, o projeto caiu na estrada. A primeira intervenção fora de SP foi a reforma de um Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes em São Miguel Paulista. Eles passaram três anos estudando e se preparando para a construção do motorhome, um furgão transformado em casa. Venderam tudo que tinham e construíram a casa sobre rodas, onde vivem com a cadelinha vira-lata Xurumela.

 

“Nesse período, realizamos mais quatro reformas na cidade de São Paulo, antes de tornar o projeto itinerante, como é hoje. Foi fundamental para entender melhor nosso público, afinar a metodologia e compreender como poderíamos impactar mais pessoas, em outras regiões do país”, conta Ariadne.





 

ReformAção

 

Antes e depois de espaço reformado em Goiás (foto: Divulgação/Arquitetando o Mundo)
As ações sociais, também chamadas de “reformAção”, duram em média seis semanas, nas quais são promovidos encontros com a comunidade, oficinas criativas com crianças e adolescentes, relatório das potencialidades locais, projeto arquitetônico com planta baixa, 3D e mão na massa. Todas as reformas são feitas de forma gratuita e têm o objetivo de “promover transformação através da democratização da arquitetura e da cultura ‘faça você mesmo’”, além do punk, segundo o casal.

 

A promoção de uma arquitetura colaborativa é um dos pilares do projeto. Em cada cidade que passa, o Arquitetando o Mundo parcerias locais para envolver a comunidade em uma causa social. O projeto visa contribuir para o desenvolvimento de crianças e comunidades em vulnerabilidade social no país, resgatando a auto estima, fortalecendo laços de cidadania e inspirando as pessoas a transformarem a própria realidade.

 

Como inspiração metodológica, o casal cita o projeto "Arquitectura para Niños" e "Cidade das Crianças", idealizado pelo psicopedagogo italiano Francesco Tonucci. Na arquitetura, as referências são Herman Hertzberger, Jane Jacobs, Lina Bo Bardi e o grupo Al Borde (Hacer Mucho con Poco). Na psicologia, Winnicott, Vygostsky e na pedagogia Montessori, Reggio Emilia, Lydia Hortélio, entre outros.





 

Minas Gerais na rota do casal

 

 

Desde julho do ano passado, o Arquitetando o Mundo já passou por oito estados: Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Piauí, Distrito Federal, Bahia, Ceará e Rio Grande do Norte. O casal já percorreu mais de 7 mil quilômetros e transformaram dois abrigos, uma escola e três associações comunitárias, uma em cada estado. 


Fachada da associação da Comunidade do Amendoim, em Couto de Magalhães (MG) (foto: Divulgação/Arquitetando o Mundo)
Eles passaram por Couto de Magalhães de Minas, no Vale do Jequitinhonha, onde a intervenção foi realizada na Associação Rural da Comunidade do Amendoim (Ascomdra).

No DF, reformaram o Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes do Recanto das Emas. No Mato Grosso, reformaram a Associação de Moradores do Bairro Sol Nascente, em Chapada dos Guimarães. Em Anápolis, Goiás, a intervenção foi no Instituto Abraço. No Piauí, foi a vez da Escola Euclides da Cunha, em Cajueiro da Praia, no povoado de Canto Comprido.





 

Antes e depois de espaço reformado em São Miguel Paulista (foto: Divulgação/Arquitetando o Mundo)
“O desafio é enorme, uma vez que temos um curto espaço de tempo nos vincular à comunidade e edificar uma reforma. Com o tempo, fomos aprendendo a lidar melhor com os imprevistos e desenvolver uma forma de trabalho que se adapta rapidamente às necessidades das pessoas e do local onde estamos realizando a ação”, afirma Ariadne.

 

Como contribuir para  o Arquitetando o Mundo

O início do projeto foi realizado com investimento do próprio casal, nas três primeiras reformas. Nas outras três, tiveram apoio de duas empresas. Eles também receberam apoio pontual de pequenos empresários e pessoas interessadas em ajudar.

 

No entanto, manter a expedição na estrada sem garantia de viabilidade financeira não é tarefa fácil. Recentemente, o Arquitetando o Mundo lançou uma campanha de financiamento coletivo, para arrecadar o valor das seis intervenções que ainda faltam. Os custos incluem deslocamento, alimentação, materiais para a reforma, oficinas criativas, relatório das potencialidades locais e o projeto arquitetônico.

 

A campanha é do tipo “tudo ou nada”: é necessário que a meta seja 100% atingida para que o projeto receba o valor arrecadado. Caso contrário, os colaboradores recebem o dinheiro de volta. Aberta até 26 de agosto, a campanha já arrecadou cerca de R$ 20 mil (ou 17%). Para participar, a contribuição mínima é de R$ 10.

*Estagiária sob supervisão da editora Vera Schmitz