Jornal Estado de Minas

RIO DE JANEIRO

19ª vítima da operação no Complexo do Alemão era uma dona de restaurante



A morte tornou-se a principal marca das operações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro — e no segundo dia de incursões no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, não foi diferente. Solange Mendes, de 49 anos, morreu baleada durante um tiroteio e tornou-se a 19ª vítima na terceira chacina no governo de Cláudio Castro (PL). Ela era dona de um restaurante na comunidade.



Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que uma das bases da UPP Nova Brasília — o segundo em 24 horas —, mas negou revide. No primeiro dia de operações, o cabo Bruno de Paula Costa, 38 anos, foi morto dentro de uma UPP.

Mas, segundo moradores da comunidade, Solange foi atingida por um agente do estado. "Quando ela chegou aqui na esquina, começaram os tiros. Eu olho novamente e está ela caída", relatou um vizinho, que não quis se identificar. "Eles (PMs) taparam o rosto dela e o enrolaram com uma roupa deles mesmos, para que não se soubesse quem é. Um dos policiais ainda gritou que era moradora. Mas como é que grita que é moradora e não mostra quem é?", completou.

Já Renê Silva dos Santos, jornalista e fundador do jornal comunitário Voz das Comunidades informou que Solange foi atingida por um policial. "Dona Solange Mendes morreu por volta das 8h30, durante ação da UPP Nova Brasília. Segundo vizinhos, ela foi baleada por um policial que se assustou quando passava no beco", diz a publicação.



Nas redes sociais, moradores do Alemão denunciaram as ações da polícia. "Estamos até agora rodando por todas as localidades da favela, colhendo relatos de moradores e pensando como auxiliar de alguma forma para reduzir os danos. É assustador o nível de tensão e desespero. As pessoas estão desoladas. Que dias duros, meu Deus", tuitou Raul Santiago, empreendedor, ativista e morador do Complexo.

Revolta

Uma das 19 vítimas, Letícia Marinho Sales, 50, morta na quinta-feira, foi reconhecida pelas filhas, que compareceram ao Instituto Médico-Legal (IML) para liberar o corpo para o sepultamento. Elas fizeram questão de expressar a revolta pelo assassinato da mãe.

"Um policial vem e atira na minha mãe dessa forma? O que a minha mãe fez com ele? Ela levantou uma arma para matar ele? O que tinha na cabeça aquele homem? A única coisa que eu cobro do governador Claudio Castro é justiça. Porque nada vai trazer minha mãe de volta. Nada do que o estado fizer vai trazer minha mãe de volta. O estado foi extremamente negligente", cobrou uma das filhas.



A própria Letícia tinha perdido a mãe, há pouco mais de 10 dias, e, agora, as filhas vivem a mesma tristeza. "Foi tirado um pedaço de mim. Tudo o que eu tinha na minha vida era a minha mãe. Ela era tudo. Eu perdi minha avó há 12 dias. Enterramos a minha avó, e eu falei: 'Só tenho a minha mãe e o meu pai'. E agora, infelizmente, tiraram minha mãe de mim", disse a filha.

No primeiro dia de operação, na quinta-feira, foram mortos, segundo a PM, 16 suspeitos, além de Letícia Marinho de Sales, de 50 anos (vítima de bala perdida quando estava dentro de um carro), e do cabo Bruno (atingido no pescoço).

*Estagiária sob a supervisão de Fabio Grecchi