Jornal Estado de Minas

CORRENDO RISCOS

'Anjos da guarda': a aposentada resgatada por motoboys durante alagamento em SP

A aposentada Maria Ladi Rodrigues, de 77 anos, voltava para casa na terça-feira (15/3) quando ficou presa em uma rua em meio a uma forte chuva em São Paulo (SP).

"Um carro passou tranquilo na minha frente e eu fui passar também, mas aquilo encheu repentinamente, meu carro morreu e não consegui mais sair", diz a idosa à BBC News Brasil.





"Olhava para frente e não via ninguém. Falei: quem vai me ajudar?", relembra Ladi, como é conhecida entre os familiares e amigos.

O carro dela ficou parado em um trecho de Perdizes, na capital paulista. Ela permaneceu no veículo por cerca de um minuto, período suficiente para fazer com que sentisse muito medo. "Eu pensava no pior: agora eu vou", conta.

Logo três motoboys que estavam em uma lanchonete da região se aproximaram do veículo ilhado na rua.

"Eles chegaram, me acalmaram e um deles falou assim: a senhora vai subir nas minhas costas. Um outro ficou me segurando atrás", diz ela. Após ser levada até a lanchonete, a aposentada riu da situação. "Eu achei que eles não iriam conseguir me segurar, por isso fiquei rindo depois, quando já estava tranquila e não corria mais risco nenhum", diverte-se.

A cena do resgate foi filmada pela advogada Ana Letícia Arruda, que mora em um apartamento próximo ao local, e foi compartilhada nas redes sociais. O vídeo causou repercussão e muitos elogiaram a ação dos homens que ajudaram Ladi.






"Decidi registrar no momento em que vi os motoboys entrando na água para ajudar. Nos dias atuais ficamos surpresos quando vemos um altruísmo desse nível, infelizmente", diz Ana Letícia à BBC News Brasil.

"Quem sabe se der mais destaque (à ajuda dos motoboys) e visibilidade, o vídeo inspira as pessoas a fazerem mais pelas outras", acrescenta.

A advogada afirma que a região sempre costuma alagar quando há chuva forte. Há relatos de outros carros que também ficaram ilhados na mesma área em períodos anteriores.

Vítima há 40 anos

Alagamentos como o vivenciado por Ladi em São Paulo são cada vez mais comuns pelo país.

A aposentada diz que se trata de um problema histórico, do qual ela já foi vítima de outro episódio há mais de 40 anos, também na capital paulista.





"Vivi um acontecimento semelhante. Meu filho tinha 10 anos e a gente teve que sair pela janela (do carro)", diz ela, que diz ter se recordado do alagamento do passado quando ficou ilhada dentro do veículo na última terça-feira.

Ela cobra que as autoridades de São Paulo e de todas as cidades em que há dificuldades causadas por enchentes deem atenção ao tema e procurem medidas para evitar episódios assim. "As autoridades precisam tomar consciência e dar um jeito na cidade", diz.

'Eles foram sensacionais'

Quando foi deixada pelos motoboys na lanchonete, Ladi quis dar uma retribuição financeira a eles. "Mas eles não aceitaram de jeito nenhum. Eles foram sensacionais. Acho que os motoqueiros, nessas horas, se juntam para salvar", conta.





Motoboys resgataram Ladi logo após ela ficar ilhada em veículo (foto: Reprodução/Ana Letícia Arruda)

Os três rapazes também empurraram o carro dela para uma área em que não havia alagamento. O automóvel teve perda total. "Agora estou aguardando o seguro", afirma a aposentada.

Após o susto, ela prefere enxergar a situação com bom humor. Para Ladi, os motoboys e as outras pessoas a ajudaram, principalmente, em razão de seus cabelos brancos. "O quarteirão todo (do local do alagamento) me acolheu muito bem", diz. "Nunca imaginei que seria assim. Acharam que sou assim, velhinha, e ficaram preocupados comigo", declara.

"O pessoal todo veio falar: a senhora precisa de alguma coisa? Foram muito solidários comigo", conta.


Aposentada considera que motoboys foram seus anjos da guarda (foto: Arquivo pessoal)

A aposentada não teve nenhum tipo de ferimento. Ela não sabe os nomes dos homens que a ajudaram a sair do carro, mas tem uma certeza: diz que eles foram seus "anjos da guarda" naquele momento.





"Quando eles fizeram sinal de que estavam indo, meu coração sossegou porque fiquei bastante apreensiva quando estava no meio da água e não via ninguém na minha frente", diz.

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