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Estado de Minas ENTREVISTA EXCLUSIVA

Ex-secretário Wanderson defende vacinação e testagem em massa

Ex-secretário do Ministério da Saúde defende testagem em massa, aumento do ritmo de vacinação e comunicação para conseguir, até o fim do ano, controlar a COVID


30/05/2021 04:00 - atualizado 30/05/2021 07:58

Wanderson sobre a CPI da COVID: 'Tem muito fungo que precisa pegar sol. A CPI é essa luz'(foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Wanderson sobre a CPI da COVID: 'Tem muito fungo que precisa pegar sol. A CPI é essa luz' (foto: Wilson Dias/Agência Brasil)
Nascido em Bom Despacho, registrado em Perdigão, municípios no Centro-Oeste de Minas Gerais. Criado no Bairro Eldorado, em Contagem, na Grande BH. Mas foi em Brasília que o epidemiologista Wanderson Oliveira passou a ser conhecido nacionalmente. Foi durante a sua passagem como secretário nacional de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde entre janeiro de 2019 e maio de 2020. Ele atuou no começo do combate ao coronavírus no país na gestão de Luiz Henrique Mandetta, demitido pelo presidente Jair Bolsonaro em abril.

Ao participar de coletivas diárias no fim da tarde, ao lado de Mandetta e do então secretário-executivo do ministério, João Gabbardo, os três vestindo os coletes azuis do Sistema Único de Saúde (SUS), Wanderson ganhou projeção nacional. Usar coletes nas aparições públicas, por sinal, foi uma solução do epidemiologista para um problema prosaico. “Meus ternos já estavam todos sujos e, por causa da primeira quarentena, as lavanderias de Brasília estavam fechadas. Então sugeri ao ministro e todos passamos a usar os coletes nas entrevistas”, revela.     

Pouco mais de um ano se passou desde a saída de Wanderson Oliveira do Ministério de Saúde, que deixou o cargo logo depois da demissão de Nelson Teich. Ele assumiu a secretaria de Serviços Integrados do Supremo Tribunal Federal (STF) a convite do presidente da corte, Luiz Fux. Mas continua a auxiliar, agora informalmente, secretários de diversos estados e municípios brasileiro com as projeções e análises que faz. 

Em entrevista ao Estado de Minas, Wanderson conta que teve a chance de voltar a trabalhar em seu estado. Foi convidado pela prefeita de Contagem, Marília Campos (PT), para assumir a secretaria de saúde da cidade. Recusou o cargo por motivos familiares; sua filha, que necessita de cuidados especiais, faz tratamento em Brasília.

Mesmo distante de Minas, Wanderson continua atento ao impacto da pandemia no estado. Durante a entrevista, realizada por meio de uma chamada de vídeo, ele compartilhou um dos gráficos que acompanha sistematicamente: os casos registrados nas semanas epidemiológicas na Grande BH. 

Wanderson ressaltou que os prefeitos precisam tomar decisões em conjunto para deter o vírus e afirmou que a gestão de Alexandre Kalil (PSD) no combate à pandemia em Belo Horizonte está surpreendendo o Brasil. Ele também elencou as condições para um fim de ano mais seguro no país. O “caminho das pedras” é imunizar toda a população maior de 18 anos até o dia 31 de outubro, aplicando 257 milhões de doses. 

Além da vacinação de mais de dois milhões de brasileiros por dia, o epidemiologista inclui a necessidade de testagem em massa e a otimização da comunicação no combate à pandemia. “Para passar bem no Natal, no Ano-novo e carnaval de 2022, temos que fazer esse dever de casa até o dia 31 de outubro. É viável? Completamente”, afirma. “Mas não se pode perder tempo”, adverte.

Wanderson também opina sobre a CPI da COVID (“tem muito fungo que precisa pegar sol; a CPI é essa luz”) e comenta a possibilidade de uma terceira onda do coronavírus no Brasil. Mesmo enfatizando que não se deve olhar apenas para o passado, ele comenta a sua saída do ministério. “Lamento muito ter saído em um momento para o qual eu estudei e me preparei tanto. Para mim, foi como tirar o Ronaldinho da Copa do Mundo.”

O que mudou na sua rotina pessoal depois de trocar o ministério pelo STF? 

Eu não vim direto para o STF. Eu sou servidor do Hospital das Forças Armadas. Sou epidemiologista concursado lá. Quando eu saí do Ministério da Saúde, em 25 de maio do ano passado, eu, imediatamente, voltei para a minha instituição. Como sou da área de pesquisa, era bem tranquilo. Fazia meu trabalho e dava aula para residência médica, parte de vigilância e comecei a trabalhar na questão do retorno escolar.

No final do ano, o ministro Fux (Luiz Fux, presidente do STF) me ligou convidando para assumir a secretaria de Serviços Integrados. Eu aceitei e estou lá. Sou responsável pela saúde dos ministros, dos funcionários, dos aposentados tanto do STF quanto do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Essa é a minha atividade. Não tenho função de consultoria, por exemplo. Além disso, sou coordenador da comissão médica do estado de São Paulo e tenho ajudado nas ações de vigilância em Pernambuco.

O senhor continua, então, acompanhando o trabalho desenvolvido nos estados e municípios?

Nunca parei. Continuei trabalhando. Faço muita coisa nos bastidores, ajudando secretários, como o do Espírito Santo, o próprio Jackson (Machado, secretário de Saúde de Belo Horizonte) e o Fabiano Pimenta (subsecretário de Promoção e Vigilância em Saúde de BH). Sempre temos conversado, mantido um diálogo para olhar pela minha experiência na emergência de saúde pública.

Com o avanço da pandemia ao longo de 2020, muitas previsões foram se confirmando, outras foram sendo desmentidas por estudos. O que gostaria de ter conhecimento no início e o que fez falta no primeiro enfrentamento, quando o senhor ainda estava no Ministério da Saúde?

Eu tenho feito uma reflexão sobre o que poderia ter feito diferente. Com o conhecimento que eu tinha na época, eu faria a mesma coisa novamente. Nós não tínhamos muito conhecimento. A questão é que hoje, olhando para trás, a gente precisa ajustar algumas questões, como por exemplo, testes rápidos de antígeno. Ou seja, teste diagnóstico. O Brasil não tem à disposição autotestes de antígeno, o que é isso? Você vai na farmácia, comprar o teste e fazer em casa. Precisamos incorporar.

Se a gente não fizer isso, o empresariado não vai conseguir voltar adequadamente, muito menos o comércio.

O senhor disse à rádio CBN em abril: “Nós teremos uma probabilidade de uma nova recrudescência da pandemia em meados de 20 de junho, mais ou menos, por causa do inverno.” A previsão está mantida?

Se seguirmos o padrão de maio para os outros meses, nós chegaríamos, em 11 de junho, na melhor das hipóteses, com uma possibilidade de atingir o máximo, caindo a partir deste dia. Em um cenário mais conservador, vamos até o dia 17 de junho. Agora se esse aumento que vamos observando em algumas regiões, essa nova variante indiana, se ela se sobrepor à P1, podemos chegar ao pior cenário em 10 de julho. Poderemos chegar em torno de 4 mil mortes (por dia). Essa é a estimativa. Só que não posso olhar apenas para isso. Temos de ver os usos hospitalares, com a abertura de novos leitos, que podem reduzir a estimativa.

Qual é o caminho para este inverno e para termos um Natal mais seguro?

O que eu tenho colocado são dois pontos principais. O primeiro deles é o curto prazo: junho, julho e agosto. O que dá para fazer nesses meses em que temos a maior parte de síndromes respiratórias? É testagem e/ou uma vigilância sindrômica para que isolemos todas as pessoas sintomáticas e tenha o melhor monitoramento de quem teve contato com aquela pessoa. A Saúde da Família dá conta de fazer isso. Em paralelo, precisamos aplicar 257 milhões de doses. Por que 257? Porque o Brasil já vacinou, com duas doses, 19 milhões. Vamos colocar 20 milhões de brasileiros. Ou seja, 10 milhões de brasileiros foram imunizados. Se considerarmos que a população brasileira é estimada em 213 milhões – não posso vacinar menores de 18 anos, porque eles não têm vacina disponível (25% da população). Para que tenha uma imunidade coletiva, precisamos vacinar todas as pessoas com mais de 18 anos.

Por quê? 

A imunidade coletiva se dá com 70% a 85% da população total imunizada. Não é só do grupo-alvo, temos que vacinar todo mundo, com doença ou sem doença. Até o fim do ano, aplicar 257 milhões de doses. Se conseguirmos fazer isso até o fim de outubro, vamos conseguir passar um Natal bom. Temos de fazer esse dever de casa até o dia 31 de outubro. É viável? Completamente, porque temos realizado um total de 13 milhões de doses. Para atingir essa meta de 257 milhões de doses aplicadas até 31 de outubro, precisamos fazer 51 milhões de doses por mês, que dá 12 milhões por semana e 2,5 milhões de doses por dia. Esse é o caminho das pedras. Atrelado a isso, fazer uma comunicação para que as pessoas usem máscara e trabalhar com os empresários para que eles ofereçam máscaras de melhor qualidade e testagens aos funcionários. E fazer testagem em massa dos assintomáticos, porque são eles que mantêm a cadeia de transmissão.

E o passado recente? 

Precisamos focar nessa nova etapa da pandemia. Há outros fóruns para cuidar do que não foi feito: CPI, população nas urnas, a própria história. Agora o que a gente quer nesse movimento (“Direitos Já! Fórum pela democracia”) é não ficar no mimimi do passado, mas pensando em alternativas para orientar o ministro (da Saúde, Marcelo) Queiroga, governadores, secretários. Caso contrário, a única alternativa será um lockdown organizado, por três semanas consecutivas, para reduzir a circulação do vírus em 70%. Isso é muito complexo de conseguir. 

Então o que deve ser feito?

Testagem em massa, vacinação em massa e comunicação. Não adianta fazer isso tudo se a população não souber que a maior parte da responsabilidade é dela. Esses são os pilares essenciais.

A vacinação realizada até agora pode reduzir o impacto de uma terceira onda, no inverno?

De forma nenhuma. A vacinação é um evento individual. Vai proteger a pessoa que tomou depois de 15 a 30 dias contra aquele vírus para casos graves. Ela não visa evitar a transmissão, não tem a capacidade de ser um escudo. Ainda tem a falha vacinal, dependendo de cada um. Não há possibilidade alguma de a vacina ser o norte de uma estratégia para o inverno de 2021. Já era. A única coisa que dá para fazer no inverno de 2021 é: testagem, identificação dos casos e isolamento do doente e dos seus contactantes. 

Minas Gerais confirmou, na última sexta-feira, o primeiro caso de variante indiana no estado, em Juiz de Fora. O que preocupa mais no caso dessa cepa? O que deve ser feito no estado e em BH para que não haja disseminação dessa variante?

Primeiro aumentar o isolamento. E fazer mais testes para isolar quem tem a variante. O Brasil está fazendo de dois a três testes para cada paciente confirmado. Os Estados Unidos estão fazendo 40. A Austrália fez 536. O Reino Unido está fazendo dois testes por pessoa e por semana. Isso não será uma cultura para o resto da vida. É para este momento mais crítico. À medida em que pessoas forem se vacinando e a imunidade for criada, protege aqueles que não puderam se vacinar. Então não é possível, para o inverno de 2021, fazer qualquer medida que não seja barreira e distanciamento.
Os vírus competem pelo hospedeiro. Então não sabemos se vai haver uma sobreposição das variantes. Então por exemplo: se em Juiz de Fora circular mais a P1, não sei se a P1 e a variante indiana brigarem pela célula, quem vai prevalecer. Eu me preocupo muito mais com as nossas variantes neste momento. Porque a variante indiana será uma preocupação maior em agosto ou em setembro. 
 
O senhor conhece bem a realidade da Grande BH. Quais políticas devem ser adotadas em Belo Horizonte e nas cidades vizinhas?

Morei 30 anos em Contagem, onde fui coordenador do programa Saúde da Família. Inclusive a prefeita Marília Campos (PT) me convidou para ser secretário (de Saúde) de Contagem no início do ano, mas não tive condições de aceitar por causa de questões pessoais. Do ponto de vista de estrutura, acho que passamos momentos muito críticos entre fevereiro e março. Porém, olhando de fora, houve uma dificuldade muito grande para Betim acompanhar as ações dos demais municípios. O prefeito não estava acreditando, com uma posição mais negacionista, e os demais municípios tentando fazer uma ação mais técnica. Espero que nenhum município da Grande BH adote posturas negacionistas de não acompanhamento das orientações científicas e que também não tomem decisões em detrimento aos seus vizinhos. O vírus não sabe que existem divisas entre as cidades. E as pessoas que precisam sair para trabalhar estão transitando (na Grande BH). 

E em relação a Belo Horizonte?

O secretário Jackson e o prefeito Alexandre Kalil estão surpreendendo o Brasil. Estão fazendo o trabalho muito bem. São medidas muito impopulares, muito difíceis de serem adotadas. Os municípios da Grande BH devem atuar de forma coordenada nos âmbitos político e técnico. Como fazer isso? Melhorando a comunicação. 

Como avalia a abertura e desativação de leitos?

O que digo aos gestores é: não desativem os leitos até que tenha pelo menos 50%, no mínimo, da população total vacinada. Leito não é custo; é investimento. O prejuízo será muito maior se fechar porque não vai conseguir abrir depois. É preciso uma compreensão dos órgãos de controle, como o Ministério Público Estadual e o Tribunal de Contas. Deve haver um grande combinado entre esses órgãos. Uma parte da responsabilidade dos problemas que vimos no início do ano foi causado pelos órgãos de controle, que mandaram vários secretários fecharem leitos (no segundo semestre de 2020), sob a alegação de gastos. Foi um erro grave, haja vista a falta de oxigênio que nós vimos.

Aceitaria um convite para retornar ao Ministério da Saúde ou para voltar a trabalhar em Minas Gerais?

Sou um professor. Meu desejo é voltar para BH dando aula.  Pretendo voltar para Minas. Não sei, ainda, onde trabalharia: UFMG, prefeitura... Mas voltarei, em algum momento. Minha casa é aí. Sobre o ministério, na atual gestão é impossível. Não tem ambiente para isso. Não existe perspectiva ou possibilidade disso acontecer.

Como avalia a sua passagem pelo Ministério da Saúde?

Lamento muito que o presidente Bolsonaro não tenha conseguido perceber que fazíamos um trabalho bem-feito, ético. Ele poderia ter aproveitado o melhor que estava sendo oferecido para ele, teve a oportunidade de marcar a saúde pública brasileira.
Uma das coisas que mais me intriga é, que no plano de 100 dias do governo Bolsonaro, a meta 35 é vacinação. Foi a primeira vez que um gestor colocou a vacinação como prioridade no programa de governo. O que aconteceu de lá para cá para chegar onde estamos? Essa é a pergunta.

O senhor acha que a CPI da Covid pode trazer essa resposta? 

A CPI é um ato político. Pelas ações que foram apresentadas, ela trouxe à tona muitas questões que eram senso comum, mas que não havia provas. Ela já deu um resultado muito bom. A CPI coloca luz sobre problemas, posturas e omissões de forma transparente. As pessoas que estudam fungos falam que os fungos morrem com a luz do sol. Acho que tem muito fungo que precisa pegar sol. A CPI é essa luz.


Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil

  • Oxford/Astrazeneca

Produzida pelo grupo britânico AstraZeneca, em parceria com a Universidade de Oxford, a vacina recebeu registro definitivo para uso no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No país ela é produzida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

  • CoronaVac/Butantan

Em 17 de janeiro, a vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan no Brasil, recebeu a liberação de uso emergencial pela Anvisa.

  • Janssen

A Anvisa aprovou por unanimidade o uso emergencial no Brasil da vacina da Janssen, subsidiária da Johnson & Johnson, contra a COVID-19. Trata-se do único no mercado que garante a proteção em uma só dose, o que pode acelerar a imunização. A Santa Casa de Belo Horizonte participou dos testes na fase 3 da vacina da Janssen.

  • Pfizer

A vacina da Pfizer foi rejeitada pelo Ministério da Saúde em 2020 e ironizada pelo presidente Jair Bolsonaro, mas foi a primeira a receber autorização para uso amplo pela Anvisa, em 23/02.

Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades

Como funciona o 'passaporte de vacinação'?

Os chamados passaportes de vacinação contra COVID-19 já estão em funcionamento em algumas regiões do mundo e em estudo em vários países. Sistema de controel tem como objetivo garantir trânsito de pessoas imunizadas e fomentar turismo e economia. Especialistas dizem que os passaportes de vacinação impõem desafios éticos e científicos.


Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus.

 

 

Entenda as regras de proteção contra as novas cepas

[VIDEO4]

 

Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.


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