Entidades do setor de diagnóstico laboratorial no Brasil montaram uma força-tarefa para reexaminar testes de COVID-19 que venceram ou estejam próximos do vencimento. A iniciativa, designada “Programa de Avaliação de Kits para Coronavírus”, é feita em parceria com a Anvisa e tem por finalidade dar uma referência de vida real dos exames ao setor público e ao mercado, já que os prazos de validade são inicialmente classificados de forma protocolar pela agência regulatória.
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Considerado "padrão ouro", o RT-PCR é um dos exames mais eficazes para diagnosticar a COVID-19, além de ser arma poderosa para o controle da pandemia por ajudar a localizar e isolar infectados e seus contatos próximos. Na rede privada, o exame custa de R$ 290 a R$ 400.
A nova etapa do programa está oficializada por uma nova resolução da Anvisa, a RDC 445/2020, e prevê que os fabricantes já tenham realizado estudos que atestem uma estabilidade maior que a já autorizada pela autoridade sanitária. Após uma solicitação para revalidação dos kits, é feita a avaliação em um dos laboratórios do programa e emitido um laudo, que deve ser novamente submetido à Anvisa para deferimento da alteração da validade do produto. Todos os estudos serão divulgados e colocados à disposição da população.
“A diferença em relação ao Programa de Avaliação original é que, assim como o INCQS faz, será elaborado um relatório oficial com os resultados que subsidiarão a tomada de decisão pela Anvisa em relação aos lotes avaliados, no tocante à eventual revalidação. Dados sobre sensibilidade e especificidade de vida real serão disponibilizados, comprovando se os produtos continuam eficazes. Todos os dados serão publicados no website, dando a necessária transparência e publicidade requeridas na RDC 445”, afirmou Carlos Eduardo Gouvêa, presidente executivo da CBDL e um dos coordenadores do Programa de Avaliação
Medida poderá evitar desperdício
O encalhe nos testes adquiridos pelo governo federal é decorrente da falta de insumos necessários para completar o diagnóstico, como cotonetes “swab” e máquinas mais modernas para processar as amostras de pacientes. Apesar da dilatação da data de validade desses exames, os problemas que travam o fluxo de distribuição devem permanecer dificultando a utilização desses testes na rede do SUS.
Com isso, se tecnicamente avaliada e dilatada, a vida útil maior evitaria o desperdício de dinheiro público (unidades para vencer custaram R$ 290 milhões) e a ampliação do número de diagnósticos.
“A importância do programa não está só no aspecto econômico, que obviamente é fundamental, mas, na necessidade de continuar testando. O teste precoce e preciso é a melhor ferramenta na luta contra uma pandemia”. ressalta Gouvêa.
O Programa de Avaliação de Kits é executado pela Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), pela Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), pela Sociedade Brasileira de Análises Clínicas (SBAC) e pela Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramed). A iniciativa conta com a parceria do Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS) e da Fiocruz.
*estagiário sob supervisão do subeditor João Renato Faria