Jornal Estado de Minas

CHECAMOS

Preço da CoronaVac é inferior ao pago em outros países por imunizantes

Publicações compartilhadas milhares de vezes em redes sociais desde meados de janeiro afirmam que a vacina contra covid-19 desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan é a “mais cara do mercado”, apesar de ter 50,38% de eficácia global. Isso é falso. O preço da CoronaVac é inferior ao pago por outras vacinas, como as da Pfizer e da Moderna. 


“Véi, a eficácia geral da coronavac é de 50,38%!!!! A vacina mais cara do mercado te dá 50% de chance de ser (na melhor das hipóteses) soro. Eram 98% de eficácia, depois 79%, depois 78,3%, depois 65% e agora 50,38%. E O MARKETING QUE FOI FEITO PRA PRESSIONAR ESSA APROVAÇÃO?”, diz um tuíte, compartilhado mais de 3.600 vezes desde o último dia 12 de janeiro.



Capturas de tela desta mesma publicação também foram replicadas mais de mil vezes no Facebook (1, 2, 3) e Instagram. Não é verdade, contudo, que a CoronaVac seja a vacina contra covid-19 mais cara. 

Como informou o governo de São Paulo ao AFP Checamos para uma outra verificação, o valor estimado da dose da vacina da Sinovac Biotech é de 10,30 dólares, ou 54 reais no câmbio de 18 de janeiro de 2021.

Este preço é consideravelmente inferior, por exemplo, ao cobrado pela empresa norte-americana Moderna, segundo estimativa fornecida por seu CEO em entrevista a um jornal alemão em novembro de 2020. Ao Welt Am Sonntag, Stéphane Bancel afirmou que a dose da vacina da Moderna custaria entre 25 e 37 dólares, ou entre 131 e 195 reais.



Em tuíte publicado em 17 de dezembro, a secretária de Estado do Orçamento da Bélgica, Eva De Bleeker, revelou que a União Europeia pagaria um pouco menos pelo imunizante da Moderna, gastando 18 dólares por dose, ou 95 reais - valor ainda significativamente superior ao da CoronaVac.

Nos Estados Unidos, o governo fechou um contrato de 1,5 bilhão de dólares por 100 milhões de doses da vacina da Moderna, o que colocaria o preço de cada unidade no patamar de 15 dólares, ou 79 reais.

O custo de cada imunizante é negociado separadamente entre o país comprador e a farmacêutica responsável, podendo variar dependendo da quantidade encomendada, entre outros termos do acordo. Esses valores podem ser protegidos por cláusulas de confidencialidade e nem sempre são divulgados publicamente.



Na mesma publicação, posteriormente deletada, De Bleeker também divulgou o valor acordado entre a União Europeia e as farmacêuticas Pfizer e BioNTech: 12 euros por dose, ou 76 reais.

O tuíte da oficial belga revelou, igualmente, o preço cobrado pela alemã CureVac, que ainda está na fase final de testes. Segundo os dados divulgados por De Bleeker, a dose do imunizante custará 10 euros, o equivalente a 63 reais, ainda acima do valor da vacina da Sinovac Biotech. 

O preço da CoronaVac é, por outro lado, mais alto do que o do imunizante desenvolvido pela Universidade de Oxford com a farmacêutica AstraZeneca. Segundo divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz, que irá produzir a vacina no Brasil, sua dose custa 3,16 dólares, ou 16 reais.

Essa grande diferença se deveria ao fato de que a AstraZeneca se comprometeu a vender o imunizante “a preço de custo” em todo o mundo, abrindo mão, portanto, da margem de lucro - promessa que não foi feita por outras farmacêuticas.



Eficácia de 50,38%


Na data em que o conteúdo começou a circular, o Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, anunciou que a CoronaVac apresentou 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil.

O número gerou controvérsia por ser inferior a duas porcentagens que haviam sido divulgadas uma semana antes pelo mesmo instituto. Em 7 de janeiro, o Butantan anunciou que a vacina da Sinovac Biotech havia atingido 100% de eficácia para casos graves e moderados e 78% para quadros leves, sem a necessidade de internação hospitalar.

A taxa também é inferior a algumas divulgadas por outras farmacêuticas, mas, como explicou ao AFP Checamos o professor do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Carlos Dias, o imunizante pode ajudar o Brasil a vislumbrar uma saída da pandemia de covid-19. 




“O que eles observaram foi que no grupo de placebo, 167 voluntários contraíram a covid-19 e no grupo de voluntários, que tomou a candidata vacinal, a CoronaVac, 85 voluntários contraíram a covid-19, o que mostra que a vacina protegeu cerca de 50% das pessoas”, disse o integrante da Academia Brasileira de Ciências (ABC).

Mas, essa não foi a única observação importante, destacou Dias. “A CoronaVac se mostrou capaz de evitar aqueles casos mais moderados e graves da infecção pelo coronavírus. Esse é o principal objetivo de uma vacina, evitar os casos mais graves. Consequentemente você evita óbitos, alivia o sistema de saúde”, pontuou.

Segundo o professor, isso indica que o imunizante vai funcionar de maneira semelhante à vacina contra a gripe. “De 100 pessoas que tomam a vacina da gripe, 45, 50 ficam imunizados, os outros não. Mas os que pegam a gripe, pegam uma gripe mais leve. Foi por causa da vacina que você pegou uma gripe mais leve. E é isso que vai acontecer com a covid-19”.



Dias explicou que a vacinação também protege por meio do conceito de imunidade de rebanho, já que diminui a quantidade de pessoas suscetíveis ao vírus, reduzindo a circulação da covid-19 e, consequentemente, o número de contágios. Por isso, é importante que o maior número de pessoas participe da campanha de vacinação.

“Uma vacina com 50% de eficácia, desde que ela fosse aplicada em, digamos, 80% da população brasileira, nos tiraria dessa pandemia. Ela daria tempo do sistema de saúde se organizar e desenvolver outras vacinas mais robustas”, afirmou.

Em resumo, é falso que a CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, seja a vacina contra a covid-19 mais cara do mercado. O preço do imunizante é inferior ao pago por múltiplos países por outras vacinas, incluindo as fabricadas pelas farmacêuticas Pfizer e Moderna.

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